O bastonário da Ordem dos Médicos desdramatizou as afirmações sobre morte assistida do médico António Pereira Coelho à RTP, precisando que tais declarações não se referem à eutanásia ativa, pelo que não se justifica qualquer "alarme social".

Em declarações à agência Lusa, José Manuel Silva disse ser essencial que todos oiçam na íntegra as declarações de Pereira Coelho e percebam que "aquilo a que se refere não é eutanásia ativa", pelo que não se justifica qualquer "alarme social".

O bastonário da Ordem dos Médicos entende que as declarações de Pereira Coelho sobre situações de morte assistida estão a ser "mal interpretadas", inclusivamente pelo próprio, ao "misturar conceitos" de eutanásia, distanásia e ortotanásia, que são distintos.

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José Manuel Silva reconheceu que é frequente haver confusão de conceitos, até pelos próprios profissionais de saúde, e disse ser preciso que o debate sobre o tema prossiga "sereno, profundo, esclarecedor e despolitizado".

O bastonário referiu que o que professor António Pereira Coelho aludiu no programa da RTP foi à "morte natural" do próprio pai que estava numa "situação terminal". Em sua opinião, tal situação não se enquadra naquilo que tem vindo a ser discutido, ou seja a eutanásia ativa.

"Não se trata de eutanásia, mas sim de [situações] de morte natural que assistimos todos os dias nos hospitais", acrescentou, notando que nos centros hospitalares não se pratica eutanásia ativa, antecipando a morte dos doentes.

Questionado sobre o tema da eutanásia, Pereira Coelho, conhecido como o "pai do bebé proveta", ex-membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, admitiu já ter vivido a situações dessas.

"Posso dizer que já assisti a alguns casos destes na minha vida profissional nos hospitais”, disse.

Na entrevista revelou que até colaborou no momento da morte do seu pai: “Eu próprio colaborei quando foi da morte do meu pai. Uma morte muito arrastada, prevista e previsível para um curto prazo”, recordou.

Entretanto, numa resposta enviada à Lusa, a Procuradoria-Geral da República referiu que "o Ministério Público não deixará de analisar as declarações em questão" e que "sempre que tem conhecimento de factos susceptíveis de integrarem a prática de crime, age em conformidade, através da instauração do competente inquérito".

A Lusa contactou Pereira Coelho, mas o médico não quis prestar declarações sobre o assunto.