Numa intervenção no debate dos quatro projetos de lei sobre a despenalização da eutanásia, Fernando Negrão – que é pessoalmente contra – salientou que não renega a natureza da democracia representativa, não se tratando, portanto, “de uma objeção por falta de legitimidade”.

Eutanásia: Países onde a morte assistida é possível
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“Mas, da mesma forma que não abdico do poder representativo de que estou imbuído como deputado da Nação, também me recuso a extravasar esse direito”, afirmou, salientando que apenas o PAN tinha esta matéria no seu programa eleitoral.

Por essa razão, o líder da bancada do PSD – na qual haverá liberdade de voto – defende que “a menos de ano e meio das próximas eleições legislativas” os portugueses gostariam de “ter esse tempo para maturar e formar com mais certeza e consciência” as suas posições sobre este tema.

“Em matérias da dimensão como, por exemplo, da eutanásia, não podemos, nem devemos, apanhar os portugueses de surpresa”, afirmou.

Negrão admitiu que pode existir a perceção de que “o eleitorado do PSD é maioritariamente contra a despenalização da eutanásia”, ou os do BE “claramente a favor”.

“Mas a verdade é que ninguém sabe (...) É, no mínimo, presunçoso querer arrogar-se de quaisquer certezas sobre qual é o desejo da maioria dos seus eleitores”, disse.

O líder parlamentar do PSD classificou o sentimento maioritário da sua bancada “contra a despenalização da eutanásia nessas circunstâncias”, “sem suficiente debate e ponderação” e sem “reflexão exigente”.

“Sejamos sérios, responsáveis e consequentes: esta é uma matéria de consciência de todos e de cada um dos portugueses”, afirmou, sem, contudo, nunca mencionar a defesa de um referendo sobre esta matéria.

Apelando a uma maior aposta nos cuidados paliativos, Negrão considerou que os pareceres conhecidos “pedem um maior amadurecimento do assunto” e “alertam para as deficiências intrínsecas dos projetos de lei”.

“Seja qual for o sentido individual de voto de cada deputado e de cada deputado social-democrata, estou certo que todos o farão em liberdade e em respeito pela sua consciência, pois que mesmo que não seja já, a médio prazo a tolerância ganha sempre”, defendeu.

A intervenção do líder parlamentar do PSD mereceu apenas um pedido de esclarecimento, do deputado socialista Fernando Anastácio, que saudou a liberdade de voto na bancada social-democrata e salientou que este “não é um debate ideológico, esquerda/direita”.

O PSD usou o restante tempo que tinha disponível para intervir neste debate com uma intervenção da vice-presidente da bancada Margarida Mano, que também vota contra.

“Trata-se, se não da mais importante, de uma das mais importantes votações da atual legislatura. O que estará em causa é a aceitação ou não de um novo princípio da lei portuguesa, de que há condições objetivas para o Estado pôr fim a uma vida humana”, disse.

A deputada justificou a não apresentação de uma proposta por parte da sua bancada por não ter abordado a matéria da morte medicamente assistida no seu programa eleitoral.

A Assembleia da República irá votar dentro em breve os quatro projetos de lei sobre a despenalização da morte medicamente assistida – de PAN, BE, PS e Partido Ecologista “Os Verdes” - numa pouco habitual votação nominal, deputado a deputado.

Os dois principais partidos, PS e PSD, que somam 175 dos 230 parlamentares, deram liberdade de voto aos seus deputados.

Bloco, PEV e PAN votam a favor, sendo previsível o voto favorável da maioria dos deputados do PS.

CDS-PP e PCP são os únicos que anunciaram o voto contra, prevendo-se também votos contra de grande número de deputados do PSD.