O ritmo atual de transmissão do coronavírus na Europa é "muito preocupante" e poderia provocar meio milhão de mortes adicionais até fevereiro no continente, alertou esta quinta-feira (4) a Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Estamos, de novo, no epicentro", lamentou o diretor da OMS Europa, Hans Kluge, em conferência de imprensa.
"O ritmo atual de transmissão nos 53 países que formam a região europeia é muito preocupante (...) Se mantivermos esta trajetória, poderemos ter outro meio milhão de mortos por COVID-19 na região até fevereiro", acrescentou.
Para a OMS, o aumento dos casos explica-se pela combinação de uma vacinação insuficiente com uma flexibilização das medidas anticovid.
Segundo os dados da OMS Europa, as hospitalizações vinculadas ao coronavírus "duplicaram em uma semana".
A nova vaga de COVID-19, que começou há algumas semanas no leste da Europa, está agora a afetar a região ocidental em força, com a Rússia a bater recordes sucessivos e Itália e Bélgica a registarem subidas significativas dos contágios.
Justamente para travar a saturação dos hospitais, nesta quinta-feira, o Reino Unido, um dos países com mais mortes pela pandemia, aprovou o molnupiravir, um medicamento em comprimidos contra a COVID-19 elaborado pelo laboratório americano MSD que pode reduzir as hospitalizações em 50%. É o primeiro país do mundo a homologar este tratamento.
Uso generalizado de máscaras
Desde o início da pandemia, na Europa foram contabilizados mais de 1,4 milhões de mortes de um total de mais de 5 milhões no mundo, segundo um balanço estabelecido pela AFP nesta quinta-feira às 11h00 GMT (08h00 no horário de Brasília) a partir de dados oficiais.
A OMS afirma que se o excesso de mortalidade vinculada à covid-19 for considerada, de forma direta e indireta, o balanço real da pandemia poderia ser duas a três vezes maior que o oficial.
O número de novos casos por dia está em alta há quase seis semanas consecutivas na Europa e o número de mortes diárias sobe há sete semanas. Os números são em média 250.000 novos casos e 3.600 mortes por dia, segundo os dados oficiais da AFP.
O aumento foi impulsionado pelos números da Rússia (8.162 mortos nos últimos sete dias, +8% comparado com a semana anterior), Ucrânia (3.819 mortos, 1%) e Roménia (3.100 mortos, +4%), principalmente.
"A maioria das pessoas hospitalizadas e que morrem por COVID-19 hoje não estão totalmente vacinadas", destacou Kluge.
Em média, apenas 47% dos habitantes da região, que inclui países europeus e outros da Ásia Central, estão totalmente vacinados, segundo a OMS.
Para combater a pandemia, a organização pediu a continuidade da vacinação, o uso de máscara de forma generalizada e o respeito pelo distanciamento social.
"Dados confiáveis mostram que se continuarmos a usar a máscara em 95% na Europa e Ásia central, poderemos salvar até 188.000 vidas do meio milhão que corremos o risco de perder até fevereiro de 2022", disse Kluge.
"Certa despreocupação"
"A situação é grave", disse Helge Braun, um colaborador próximo da chanceler Angela Merkel, em entrevista ao canal público da ZDF.
"Já estamos a constatar uma carga enorme (nos hospitais) na Turíngia e na Saxónia", ambas no leste do país, relatou.
O ministro da Saúde e os seus colegas das diferentes regiões da Alemanha reúnem-se hoje e sexta-feira em Lindau (sul) para decidir sobre as novas medidas de restrição.
O novo surto da pandemia ocorre num delicado contexto político no país, com um governo interino com funções limitadas. Ainda se espera a formação de um novo Executivo, após as eleições legislativas de setembro passado.
Até ao momento, há negociações em curso para uma coligação entre social-democratas, verdes e liberais.
A chanceler Angela Merkel, em final de mandato, disse estar "muito preocupada" com esta evolução e "muito triste" com o elevado número de pessoas com mais de 60 anos não vacinadas. Ela também advertiu contra o retorno "de uma certa despreocupação", por parte dos alemães, em relação à covid-19.
O ministro da Saúde, Jens Spahn, pediu às autoridades de todas as regiões do país, competentes em matéria de saúde, que endureçam as regras para os não vacinados, proibindo o acesso a determinados locais, ou encarecendo o valor do teste de PCR.
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