Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto explica hoje que o estudo, publicado na revista Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases, visava perceber se o perfil metabólico “aparentemente saudável” de alguns pacientes com obesidade seria apenas uma “situação pontual” ou se estes tinham características que poderiam reduzir o risco associado à doença.

Citada no documento, a primeira autora do estudo, Vanda Craveiro, explica que, apesar de a obesidade aumentar o risco de se desenvolveram alterações metabólicas, “algumas pessoas com a doença apresentam estes indicadores [níveis elevados de pressão arterial, lípidos e glicose] em níveis considerados normais”.

“Por essa razão surgiu, nos últimos anos, o conceito de obesidade metabolicamente saudável”, afirma a investigadora, acrescentando que este é “um termo controverso”.

“Para se compreender melhor esta questão é necessário acompanhar estes indivíduos com obesidade ao longo do tempo, para avaliar a evolução do seu peso e dos parâmetros metabólicos”, afirma.

Tendo por base dados da coorte EPITeen [estudo longitudinal do ISPUP que, desde 2003, acompanha indivíduos nascidos em 1990], os investigadores estudaram a evolução do peso e do estado metabólico de 1.400 pessoas desde a adolescência até à idade adulta.

Os dados foram analisados em dois momentos, aos 13 e 24 anos, e o Índice de Massa Corporal (IMC) foi avaliado ao longo de 11 anos, sendo que os jovens foram categorizados de acordo com o seu peso e o estado da sua saúde metabólica.

O estudo mostrou que “cerca de 22% dos jovens que aos 13 anos apresentavam excesso de peso, mas não tinham alterações metabólicas, desenvolveram, ao longo dos 11 anos de seguimento, pelo menos uma alteração metabólica, mantendo o peso excessivo”.

Segundo os investigadores, os resultados indicam que “a obesidade não é inofensiva”.

“Apesar de alguns indivíduos com obesidade apresentarem, no início da adolescência, níveis normais de parâmetros metabólicos, os resultados sugerem que é só uma questão de tempo até que venham a desenvolver complicações na vida adulta, como por exemplo, colesterol e triglicerídeos elevados, diabetes ou hipertensão”, acrescentam.

Além da duração da obesidade, o estudo mostrou também que a distribuição da gordura corporal, como uma maior acumulação de gordura no tronco contribui para estas alterações metabólicas.

A investigação, intitulada “Metabolically healthy overweight in Young adulthood: is it a mater of duration and degree of overweight”, foi coordenada pela investigadora Joana Araújo e contou ainda com a participação de Elisabete Ramos.