"O melhor cenário será que continue na primavera, no verão (boreal) e depois se esvaeça", disse à AFP David Fisman, professor da Universidade de Toronto que escreveu uma análise do vírus para a Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas. "Não é algo que vai acabar na próxima semana, ou no próximo mês", afirmou Alessandro Vespignani, professor da Northeastern University e que faz parte de um grupo de investigadores que administra um painel on-line sobre o surto.
Na verdade, os epidemiologistas não têm uma bola de cristal, só informações fragmentadas sobre o novo vírus, que apareceu em dezembro.
Para tal, usam modelos matemáticos para calcular o número de casos, na data atual, e compará-los com surtos passados, mas muitas das suas hipóteses permanecem incertas.
Até ao fim de semana passado, os investigadores pensavam que as pessoas infetadas não eram contagiosas até começarem a apresentar sintomas, como febre, problemas respiratórios e pneumonia. Mas as autoridades chinesas disseram no domingo que determinaram o contrário.
Já as autoridades de saúde dos Estados Unidos disseram na segunda-feira que não viram evidências de que pacientes assintomáticos possam infetar outras pessoas. Mas, se puderem, isso mudará definitivamente a dinâmica do surto.
As primeiras estimativas sobre a duração do período de incubação - aproximadamente duas semanas - são recentes.
Nos últimos dias, diferentes especialistas calcularam um parâmetro importante para qualquer surto: o número básico de reprodução, ou "R0". Isso representa o número de pessoas que sofreram contágio para cada pessoa infetada.
As estimativas variam de 1,4 a 3,8, segundo Fisman, números considerados moderados. No entanto, é apenas uma média: alguns pacientes podem infetar muitas pessoas, enquanto outros infetam apenas algumas. "Por si só, não é motivo de pânico", disse Maimuna Majumder, da Universidade de Harvard e do Hospital Infantil de Boston.
Majumder explica que a taxa é de 1,3 para a gripe sazonal (que causa milhões de casos por ano) e entre dois e cinco para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que resultou em 8.000 casos e 774 mortes, principalmente em China continental e Hong Kong em 2002-2003. Em comparação, a taxa de sarampo varia de 12 a 18.
Quarentena e medidas de isolamento, lavagem sistemática das mãos e uso de máscaras podem ajudar a reduzir o número médio de pessoas infetadas. Se a taxa cair abaixo de um, a epidemia será extinta.
Mas os efeitos das medidas de controlo implementadas pela China não surtirão efeito em uma ou duas semanas, dizem os investigadores, com base no ciclo do vírus. "Quanto mais aprendemos sobre ele, mais se parece com o SARS", disse Fisman.
"O SARS era controlável, espero que este também seja. Mas não saberemos por mais algumas semanas", afirmou. "Vai demorar muitas semanas, provavelmente meses, e ninguém sabe para aonde vai parar", acrescentou.
O número oficial de casos é de mais de 4.000 na China, com mais de 100 mortos e cerca de 50 infetados fora do país. Mas o número real de casos chineses, incluindo aqueles que ainda não foram detetados, provavelmente será superior a 25.000, disse Vespignani, de acordo com a análise do grupo coordenado por Northeastern. E pesquisadores da Universidade de Hong Kong estimam que o número atual de casos excedeu os 40.000.
"É fácil chegar ao dobro ou triplicar, mesmo na cidade de Wuhan", o epicentro do vírus, disse Vespignani. "Se começarmos a ver outras áreas maiores afetadas, esses números serão muito, muito maiores".
A taxa de mortalidade, até ao momento, foi de cerca de três por cento, mas é um facto que tende a apresentar oscilações. Mais uma vez, apenas o tempo dirá.
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