16 de setembro de 2014 - 16h11
O presidente do Grupo de Infeção e Sépsis afirmou hoje no Porto que os antibióticos estão a diminuir a sua eficácia face ao desenvolvimento crescente de resistências antimicrobianas pelo uso excessivo e inapropriado desta terapêutica.
João Jaime Sá referiu que por esse motivo formou-se a Aliança Mundial Contra a Resistência Antibiótica (WAAAR) que tem como objetivo primordial a preservação do antibiótico. Esta Aliança produziu uma Declaração onde reconhece que a questão “há muito extravasou a esfera dos cuidados hospitalares e exige um esforço dirigido não só à comunidade médica e científica, mas também ao público em geral e aos legisladores”.
O texto da Declaração Contra a Resistência aos Antibióticos da WAAAR, subscrito por 700 peritos de 55 países e apoiado por 140 sociedades académicas foi hoje divulgado, em conferência de imprensa, no Porto.
Em Portugal, o documento foi subscrito pelo Grupo de Infeção e Sépsis, pela Sociedade Portuguesa de Doenças Infeciosas e Microbiologia Clínica, pela Aliança Portuguesa para a Preservação do Antibiótico e pela Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.
Com o documento pretende-se sensibilizar a população em geral, prescritores/utilizadores de antibióticos (saúde humana, veterinária, agricultura), responsáveis políticos, líderes de opinião, organizações de doentes, indústria farmacêutica, organizações internacionais, para a necessidade de preservação do antibiótico, dos graves problemas de saúde que podem ocorrer devido ao recurso excessivo aos antibióticos e promover as medidas necessárias.
Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Portuguesa para a Preservação do Antibiótico, Artur Paiva, explicou que o aumento das resistências é algo que tem 20/30 anos e a que os estados têm votado uma atenção crescente. “Portugal tem desde 1999 um programa nacional de controlo da infeção, mas tem apenas desde 2007, um programa para prevenção das resistências”, salientou.
“Em 2013, o Estado português resolveu juntar estes dois programas num único e, reconhecendo a importância do problema, deu-lhe um estatuto de programa de saúde prioritário”, sublinhou Artur Paiva.
De acordo com este especialista em Medicina Interna, “alertar a população para os riscos da toma inadvertida do antibiótico é muito importante”.
“A DGS tem esta consciência e está a publicar ativamente uma serie de normas que ajudam os clínicos a prescrever de forma adequada e sensata” daí que “no final de 2013 tenha libertado uma norma que determina quais são as raras situações (são apenas cerca de 26 situações), em que é necessário usar antibióticos por mais do que sete dias. A maior parte das infeções agudas pode ser tratada com menos ou não mais do que sete dias”, acrescentou.
Segundo o especialista, a exposição excessiva a antibióticos está a criar “progressão das resistências das bactérias” de forma que “estamos perto de ter bactérias que são totalmente resistentes ao antibiótico. Só há duas respostas a isto, uma é criar novos antibióticos, que as bactérias desconheçam e para os quais não tenham criado mecanismos de resistência, outro é usar melhor os antibióticos que temos de forma a prolongar a sua vida útil”.
O documento que hoje foi apresentado defende a implementação de um conjunto de medidas, entre as quais o alerta do público em geral sobre a ameaça que a resistência aos antibióticos representa, a investigação básica e aplicada e desenvolvimento de novos antibióticos e a proposta à UNESCO para que inclua o “conceito do antibiótico” na lista do património imaterial da humanidade.
Por Lusa