Os enfermeiros querem que o próximo Governo coloque alguns destes profissionais a assumir funções que hoje são dos médicos, alegando que as suas competências estão mal aproveitadas e que é uma forma de garantir mais cuidados com menos custos.

“Quando falamos em cuidados de saúde não são apenas cuidados médicos. Os enfermeiros têm hoje competências que não estão suficientemente aproveitadas”, afirmou à agência Lusa a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Maria Augusta Sousa.

O acompanhamento de doentes crónicos ou a requisição de sacos para fezes em pessoas com colostomia são alguns dos exemplos de tarefas que podem passar para a responsabilidade do enfermeiro.

“É possível garantir mais acessibilidade e menos custos para o sistema e para as pessoas e famílias. Isto vai ter de ser trabalhado com o Ministério da Saúde, que tem de perceber que esta é uma vertente para melhorar o sistema. Apresentaremos este aspeto a todos os partidos políticos concorrentes às eleições legislativas”, contou Maria Augusta Sousa, em véspera do Dia Internacional do Enfermeiro, que se assinala na quinta-feira.

Para a bastonária, é claro que estes profissionais têm atualmente “um potencial que não está suficientemente aproveitado” e que poderia garantir uma maior cobertura nos cuidados de saúde. “É um desperdício”, conclui.

A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que alargar “o espectro profissional” para os enfermeiros pode ser uma forma eficiente de melhorar o acesso dos utentes.

“A evidência mostra que alargar o espectro de prática profissional para os enfermeiros, se bem implementado, pode ser uma forma eficiente e custo-efetiva de lidar com os desafios demográficos e pode melhorar o acesso e satisfação dos cidadãos e profissionais”, refere, em resposta à Lusa, Casimiro Dias, da Divisão de Saúde Pública da OMS.

No entanto, o especialista é cauteloso e reconhece que não há uma prática uniforme nos países europeus quanto ao alargamento das funções dos enfermeiros.

Para suprir as necessidades das populações, a OMS defende uma estratégia integrada que reforce o papel das equipas da saúde como um todo e propõe um reforço do sistema de saúde nos cuidados primários (centros de saúde).

“É neste âmbito que a OMS tem defendido o papel do enfermeiro de família”, à semelhança do que já acontece com os médicos, recorda Casimiro Dias.

A densidade de médicos em Portugal aumentou de 2.8 (para 1.000 habitantes) em 1990 para 3.6 em 2007, mas o rácio de clínicos de família é baixo comparado com o de especialistas hospitalares, reconhece a organização.

Aliás, considera mesmo “uma preocupação séria” a densidade de médicos de família do ponto de vista demográfico.

Para reformar o sistema de saúde, a OMS diz que é ainda necessária uma colaboração com o setor do Ensino Superior, para se encontrar uma combinação adequada de qualificação dos recursos humanos em saúde.

11 de maio de 2011

Fonte: Lusa/SAPO