As dinâmicas dos ciclos políticos podem alterar significativamente a trajetória das políticas de saúde e as diferentes fases da sua implementação. Esta influência pode manifestar-se de diferentes formas, através da alteração das prioridades, do aparecimento de novos líderes e a alocação de recursos e financiamento.

Este fenómeno está amplamente documentado literatura, mostrando que as decisões em saúde são frequentemente impulsionadas por motivações políticas. As reformas tornam- se instrumentos de legitimação dos governos e campos de batalha sobre o papel do Estado na Saúde.

Desta forma, há uma tendência para priorizar reformas que respondem a consensos imediatos e pressões institucionais. Isto prejudica a continuidade e a expansão das políticas em curso, visto que as reformas iniciadas por um governo são frequentemente descontinuadas ou modificadas pelo seguinte comprometendo os seus efeitos a longo prazo.

Esta volatilidade é particularmente problemática se considerarmos que, segundo a literatura, os efeitos de uma reforma em saúde só se tornam visíveis após um período de 3 a 10 anos. Este intervalo deve-se à necessidade de adaptação dos sistemas, à disponibilidade não imediata dos dados e à inércia comportamental de profissionais e utentes.

Além disso, os impactos em saúde, como a redução da mortalidade ou a melhoria no acesso aos cuidados, também surgem de forma gradual. Assim, a interrupção prematura de reformas não só inviabiliza a avaliação da sua eficácia, como também impede a formulação de políticas futuras baseadas em evidência científica, perpetuando ciclos de experimentação e descontinuidade.

A instabilidade política tem uma ação disruptiva sobre a governação colaborativa, essencial para o funcionamento eficaz dos sistemas de saúde. Esta instabilidade aumenta a fragmentação do setor e dificulta a concretização dos objetivos do Ǫuadruple Aim: reduzir custos, melhorar a saúde da população, a satisfação dos trabalhadores e a experiência do doente.

De forma a mitigar os efeitos desta instabilidade, os países devem adotar estratégias sustentadas em evidência científica e orientadas para o bem público, em detrimento de vontades políticas. Uma dessas estratégias pode passar pela criação de instituições

apartidárias com funções bem definidas e autonomia operacional, como foi o caso da criação da Direção Executiva do SNS. Adicionalmente, coligações políticas podem ajudar na estabilização da agenda das reformas em saúde, assegurando a continuidade independentemente das mudanças no governo.

Estas instituições e alianças devem funcionar como mecanismos de resiliência às flutuações dos ciclos eleitorais, garantindo que as políticas de saúde mantêm o financiamento, o apoio técnico e a legitimidade necessários para se desenvolverem plenamente. Além disso, fomentam uma visão partilhada entre diferentes ideologias políticas, centrada nas necessidades reais da população. Com Portugal a ir novamente a eleições num período tão curto, discutir como podemos mitigar os efeitos dos ciclos políticos na saúde é hoje discutir o SNS que queremos ter.