27 de agosto de 2014 - 13h30
O presidente da administração do Hospital de São João, Porto, defendeu hoje ser possível eliminar a Hepatite C no país se o Estado garantir o tratamento a todos os infetados com os novos antivirais e recusar o ‘lobby’ farmacêutico.
“Dispomos de todos os instrumentos necessários a uma estratégia de eliminação da doença”, assinala hoje António Ferreira num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias na qual destaca que “pela primeira vez, graças aos novos medicamentos, é possível tratar eficazmente a hepatite C”.
Para o efeito propõe que o “tratamento da Hepatite C em Portugal se baseie apenas na associação dos novos antivirais”, por oposição aos atuais tratamentos que, diz, são comercializados “a preços verdadeiramente pornográficos e incompatíveis para qualquer sistema de saúde”,
“Tratar a hepatite C em Portugal custará entre quatro mil e oito mil milhões de euros” pelo que, com o atual orçamento da saúde a fixar-se nos cerca de nove milhões, “não é possível tratar todos os doentes com hepatite C”, assinala.
Porque a atual estratégia “serve os interesses da indústria farmacêutica”, ao apostar no tratamento “excecional a preços muito altos dos poucos doentes (…) em risco de vida”, António Ferreira considera que este plano “não tem lógica em termos de saúde pública porque permite que o vírus continue a disseminar-se”, para além de não ter “racionalidade em termos económicos”.
O administrador propõe “que se garanta o tratamento a todos os infetados, independentemente do estádio da doença” e que “se inicie um processo negocial com os fornecedores, baseado num programa a implementar em 10 a 15 anos, a um custo médio nunca superior a 10 mil euros por doente tratado”.
Uma vez que “a maioria dos novos antivirais não está, ainda, aprovada pela agência europeia do medicamento”, António Ferreira destaca que o Estado pode usar da “prerrogativa de autorizar a [sua] utilização especial” já que as normativas comunitárias assim o permitem.
“Este processo, para além de garantir uma mais do que justa remuneração da indústria, seria sustentável para o SNS [e] implicaria uma despesa de 500 mil euros a mil milhões de euros diferida por 10 a 15 anos (bem menor que a despesa anual atual)”, assinala.
Propõe por fim que “o executivo e as forças políticas representadas na Assembleia da República, recusando a atividade “lobista” da indústria farmacêutica, assumam este desiderato como um imperativo nacional (…) e se unam no objetivo de combater este flagelo de saúde pública”.
Por Lusa