As propriedades anti-inflamatórias das MSC e a sua capacidade para regular o sistema imunitário e estimular a reparação de lesões neurológicas representam um enorme potencial de tratamento desta doença neurológica.

As MSC estão presentes em vários tecidos, como o cordão umbilical, a medula óssea e o tecido adiposo.

Esclerose múltipla: 10 sintomas de uma doença que ainda é um mistério
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Os resultados de um ensaio clínico recente com 20 adultos com esclerose múltipla determinou a segurança e eficácia da administração de MSC do tecido do cordão umbilical. Os indivíduos receberam sete infusões intravenosas de MSC, espaçadas entre 1 a 4 dias, tendo sido avaliados antes e 1, 3 e 12 meses após o tratamento. Não se observaram efeitos adversos graves decorrentes do tratamento.

Após o tratamento, foram registadas melhorias nos indivíduos a vários níveis, quando comparada a sua condição inicial. Observaram-se melhorias na função urinária, intestinal e sexual dos doentes tratados e, após depois, mais de metade referiu sentir-se melhor, nomeadamente no que diz respeito ao seu bem-estar geral e emocional, dor, fadiga e limitações físicas. Um mês após o tratamento, verificaram-se, ainda, melhorias na destreza manual e na mobilidade, que se mantiveram ao fim de um ano.

“Alguns doentes que participaram no ensaio clínico melhoraram o seu grau de incapacidade. Um ano após o tratamento, um dos doentes em cadeira de rodas conseguiu voltar a andar utilizando um andarilho e outro doente, que andava com recurso a um andarilho passou a andar sem assistência”, comenta Bruna Moreira, investigadora da Crioestaminal.

A investigadora acrescenta: “Um ano após o tratamento, o estudo por ressonância magnética revelou que 83% dos doentes não apresentou novas lesões ativas no cérebro ou progressão das lesões existentes e um doente mostrou resolução quase completa das lesões previamente detetadas, o que constituiu um resultado surpreendente”.

Ao permitir melhorias sustentadas durante longos períodos, a terapêutica com recurso a células estaminais pode ainda trazer outras vantagens a estes doentes, como a redução da medicação, geralmente administrada numa base diária ou semanal, e dos efeitos secundários que lhe estão associados. Neste estudo, 20% dos doentes conseguiu reduzir a dose de medicação para EM.

Os autores deste estudo concluem que a administração de MSC do tecido do cordão umbilical é segura em doentes com EM e está associada a melhorias a vários níveis, nomeadamente da função sexual e urinária, destreza física e qualidade de vida. Mais estudos, nomeadamente com maior número de doentes, são necessários para que este tratamento se consolide como uma alternativa terapêutica viável para a EM.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune de caráter inflamatório, em que o sistema imunitário progressivamente destrói os circuitos nervosos do cérebro e espinal medula. A EM não tem cura, tratando-se de uma doença crónica, que pode levar a graves problemas motores, sensoriais e cognitivos, chegando a tornar-se incapacitante se não for adequadamente tratada. Para diminuir a frequência dos surtos e abrandar a progressão da doença, são utilizados medicamentos, nomeadamente corticosteroides, no entanto, estes não são capazes de reparar as lesões neuronais sofridas.