O último biénio foi caracterizado por um processo trabalhoso de recuperação do subdiagnóstico e atraso no diagnóstico de Tuberculose (TB) verificado no decurso da pandemia COVID-19, a nível mundial. Daquele adveio o maior número de casos de TB diagnosticados a nível mundial, desde 1995 – cerca de 7.5 milhões de novos casos notificados em 2022[i].
Simultaneamente, o impacto da pandemia no diagnóstico da TB condicionou um recrudescimento na mortalidade associada a esta doença. Estima-se que aquele tenha acarretado um acréscimo de óbitos próximo de 500 mil no triénio 2020-2022, quando comparado com estimativas de mortalidade para este período, prévias à pandemiai.
Apesar do esforço concertado para minimizar o impacto da pandemia, as metas estabelecidas pelas OMS para o quinquénio de 2018-2022 não foram atingidas e os objectivos definidos para a década de 2015 a 2025 encontram-se ainda distantesi:
– a redução da taxa de incidência de TB em 50%
– a redução do número de óbitos associados à TB em 75%
– a erradicação de grupos populacionais cujo atingimento pela TB tem um custo total catastrófico
Neste contexto, a OMS definiu como prioridades para o presente ano o investimento em medidas preventivas, reforçando o rastreio e tratamento de Tuberculose latente em contactos e grupos de risco, a facilitação do acesso ao diagnóstico rápido, e a garantia da adesão e cumprimento integral da terapêutica antibacilari. A introdução e implementação de novos esquemas de tratamento mais curtos e centrados no doente, promete minimizar o impacto da Tuberculose na vida quotidiana de cada doente diagnosticado.
No município de Matosinhos, o recrudescimento da taxa de incidencia anual de tuberculose foi particularmente exuberante, no último biénio, em linha com os dados epidemiológicos internacionais. No ano de 2022 ocorreu uma inversão da sua tendência de decréscimo, num retrocesso para valores próximos de 2017/2018. Este aumento sugere a recuperação, pelo menos parcial, dos casos não diagnosticados ou com atraso diagnóstico dos anos prévios.
Já em 2023 ocorreu uma redução no número de casos diagnosticados, que se mantem, ainda assim, acima dos valores previstos para 2023 antes da pandemia. O predomínio de casos entre utentes do sexo masculino (77%), a manifestação pulmonar (69%), particularmente as formas cavitadas (46%), persistem. Salienta-se um aumento da mortalidade associada à Tuberculose neste ano, ainda que filiado em estratos etários mais idosos ou na população com coinfecção pelo VIH.
Em linha com a estratégia da OMS, na ULSM a detecção e diagnóstico precoces da Tuberculose são prioritários.
Complementarmente, a proactividade na prevenção primária e secundária da Tuberculose constitui um foco de investimento cujos benefícios são significativos, ainda que se venham a fazer sentir apenas a médio e longo prazo. Neste domínio, o rastreio e tratamento de Tuberculose latente em contactos e grupos de risco assumirá um papel cada vez mais preponderante.
Apesar do decréscimo de casos de TB em 2023, o impacto do subdiagnóstico e atraso diagnóstico prévios pode ainda vir a manifestar-se ao longo dos próximos anos. O contributo de todo e de cada um dos profissionais de saúde da ULSM na luta contra a Tuberculose em Matosinhos é agora, mais do que nunca, essencial para consolidar todas as conquistas prévias, numa resposta integrada das equipas dos Cuidados de Saúde Primários, equipas Hospitalares e Unidade de Saúde Pública em articulação próxima com o Centro de Diagnóstico Pneumológico.
Também em Matosinhos, seguindo o lema da OMS para 2024:
Sim, (juntos) podemos acabar com a Tuberculose!
[i] World TB report 2023 – OMS
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