Em comunicado, o instituto do Porto adianta hoje que os resultados do estudo, publicado na revista Journal of Cell Biology e conduzido pelo investigador Helder Maiato são "evidentes".
O mecanismo descoberto permite diminuir "em cerca de metade" a dose do fármaco usado para combater o cancro da mama e do ovário, designado taxol.
"Menos medicamento, os mesmos benefícios, menos efeitos secundários e menor resistência à terapia", afirma.
As descobertas tiveram por base "uma das estruturas que compõem as células e que são fundamentais no processo de divisão celular", nomeadamente, os microtúbulos [estruturas que funcionam como uma espécie de GPS celular e orienta os cromossomas na direção correta] e a proteína que os constitui, intitulada tubulina.
"Neste estudo, demonstrou-se que em alguns cancros este sistema de navegação, o chamado código da tubulina, está alterado", refere o instituto.
Citado no comunicado, o investigador Helder Maiato explica que a tubulina é "um alvo terapêutico para vários tipos de cancro" e que todas as terapias usadas para combater o cancro da mama e dos ovários "usam um fármaco que atua precisamente na tubulina".
"Apesar de ter um sucesso elevado, as terapias baseadas no taxol têm efeitos secundários. Primeiro, porque não atuam só nas células cancerígenas, mas sim em todas as células, com efeitos particularmente relevantes nas células do sistema nervoso periférico, e segundo porque os doentes acabam por desenvolver resistência ao taxol", acrescenta.
De acordo com o investigador, "mais de 90%" das mortes por cancro devem-se a resistência às terapias que estão disponíveis, "daí a necessidade premente de encontrar fármacos mais eficientes que usam mecanismos alternativos e melhorem a sobrevivência dos doentes".
Também citado no comunicado, o primeiro autor do estudo, Danilo Lopes, acrescenta que o mecanismo descoberto no código da tubulina "permite diminuir para cerca de metade a dose do taxol, mantendo o mesmo efeito" e, simultaneamente, "aumentar a sensibilidade das células a este fármaco, diminuindo assim os efeitos secundários".
Os investigadores identificaram ainda um "novo biomarcador" que permitirá perceber como é que o doente oncológico irá reagir à terapia com taxol, estando já a ser implementado um estudo para validação clínica.
"As pessoas que apresentam níveis elevados dessa alteração na tubulina têm uma boa probabilidade de responder bem ao taxol", esclarece Danilo Lopes.
Segundo o i3S, este biomarcador permitirá aos clínicos usarem o taxol de "forma mais precisa, ou seja, de acordo com a resposta expectável do doente, e, eventualmente, evitá-lo quando as hipóteses de sucesso são muito reduzidas".
A investigação foi financiada, em diferentes projetos, pelo European Research Council da Comissão Europeia, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pela Fundação La Caixa, e pelo Norte 2020 em parceria com o Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional.
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