O Prémio Nobel da Química de 2023 foi hoje atribuído pela Academia Sueca aos cientistas Moungi Bawendi, Louis Brus e Alexei Ekimov, pela descoberta de pontos quânticos, fundamentais para a nanotecnologia.
Os pontos quânticos são partículas extremamente pequenas, cujas dimensões não ultrapassam alguns nanómetros de diâmetro. “São materiais que, quando são divididos de uma forma muito pequena, têm propriedades especiais e podem ser programados”, explicou à Lusa o professor João Carlos Lima, do Departamento de Química, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade Nova de Lisboa.
Na prática, “um deles (um ponto quântico) consegue fazer uma sonda muito pequena que consegue identificar determinadas células e fazer determinadas interações”, disse, acrescentando que a tecnologia “pode ser usada para aquecer e matar células”, assim como “para fazer brilhar as células permitindo saber onde estão e quais as suas propriedades”.
O trabalho dos cientistas premiados, de três diferentes instituições norte-americanas, já permitiu criar "pequenos dispositivos que podem entrar no nosso organismo, identificar algumas células e algumas patologias assim como matar células”, disse João Carlos Lima.
Além de terapias baseadas nestas nanotecnologias, os pontos quânticos também são usados, por exemplo, em eletrónica, como as luzes LED, que se baseiam nestas propriedades das nanopartículas, acrescentou o professor do Departamento de Química.
Quando se chega à diminuta escala dos nanómetros, a matéria passa a ter propriedades e comportamentos diferentes, regidos pelas leis da mecânica quântica, e, porque têm propriedades quânticas, chamam-se pontos quânticos.
As descobertas dos vencedores do Nobel da Química de 2023 “são usadas em muitos estudos fundamentais para sabermos como se comportam moléculas isoladas”, disse João Carlos Lima, adiantando que o Nobel hoje atribuído é “um prémio de carreira, que reconhece a utilidade que as descobertas já têm”.
O professor da Universidade Nova de Lisboa lembrou que a primeira vez que terá sido feita uma referência aos pontos quânticos foi “nas famosas conferências de Richard Feynman”, na década de 50 do século passado, em que o físico norte-americano afirmou “There´s plenty of room in the bottom” (“Há muito espaço no fundo”).
A frase era um convite para entrar num novo campo da física e significava que “existia ainda um conjunto de propriedades que tinham de ser descobertas quando se dividisse a matéria em partículas muitíssimo pequenas”.
“Feynman criou o mote para que as pessoas começassem a investigar o mundo das coisas muito pequenas, saindo um bocado das coisas grandes, do espaço e da astrofísica”, disse à Lusa, contando que muitos físicos e químicos começaram a virar-se para as propriedades das nanopartículas.
Os nomes dos vencedores do Nobel da Química foram este ano conhecidos horas antes do anúncio formal, devido à divulgação antecipada de um comunicado, embora a Real Academia Sueca de Ciências tenha negado o erro.
Moungi Bawendi é investigador no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Louis Brus trabalha na Universidade de Columbia e Alexei Ekimov na Nanocrystals Technology.
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