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“Quando começar a chover já ninguém pergunta pelas raquetes”, diz empresário
Na rua da Carreira, na cidade do Funchal, a sapataria do empresário chinês Guo, de 48 anos, tem à entrada uma raquete elétrica antimosquitos acompanhada de um papel em que se lê “esgotado”.
Na mesma rua, noutras lojas, a palavra “esgotado” repete-se à mesma velocidade do ‘entra e sai’ de pessoas que pedem raquetes, cuja procura aumentou desde que há uma semana foram conhecidos os primeiros casos de dengue na Madeira, tornando estes objetos num fenómeno de vendas e num negócio da China.
“Estamos à espera de que cheguem de Lisboa mais raquetes mata mosquitos, mas a greve nos portos está a atrasar”, disse à agência Lusa o empresário Guo, radicado há dez anos na Madeira e que, acreditando no incremento do negócio nos próximos tempos, encomendou, de uma única vez, seis caixas, cada uma com 60 raquetes elétricas.
No passado dia 03, o Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira tornou pública a existência de dois casos confirmados de febre de dengue, cuja transmissão ocorre através da picada dos mosquitos “Aedes aegypti” quando infetados com o vírus.
Na quarta-feira, a Direção Geral da Saúde informou haver 18 casos de dengue na região e 11 doentes hospitalizados, aguardando confirmação laboratorial 191 casos.
Na loja Xu Zhiqin, na mesma rua da Carreira, Susana Freitas, funcionária de 31 anos, adiantou: “Todos os dias, 20, 30 pessoas perguntam pelas raquetes e também não temos. Ainda agora esteve aqui uma cliente que já tinha corrido várias lojas e não encontrou”.
“Tudo acabou”, acrescentou, por seu turno, Rome Acter, vendedora de 35 anos do Bangladesh, admitindo que “se mais [raquetes] tivesse, mais vendia”.
Um seu compatriota, Tojammal Hossain, de 42 anos, justificou com as notícias o pedido crescente de raquetes antimosquitos, de tal modo que encontrá-las se assemelha à procura de uma agulha num palheiro: “Fala-se muito do mosquito e as pessoas vêm à procura, mas não tem. Em todo o lado acabou”, afiançou.
“Em três dias levaram tudo, por causa do mosquito”, contou Zang, de 30 anos, funcionária no bazar chinês Xin Xin, em Santo António, concelho do Funchal, que não se cansa de repetir aos clientes “não tem”.
Zang, que já se habituara a vender estes artigos, mas não na mesma quantidade do que na última semana - de tal modo que as raquetes, também aqui, esgotaram -, reiterou à Lusa o que diz aos clientes: “Vai chegar um novo carregamento”.
Xu, de 40 anos, também vendedora numa loja, espera, do mesmo modo, por mais raquetes para vender. “Estou cá há quatro anos, mas agora há mais mosquitos, sobretudo pela manhã e pela noite”, referiu.
“Não precisamos de vender muito, mas também não precisamos de mosquitos. Vendíamos outras coisas”, disse Xu.
Na loja de ferragens de Humberto Freitas, de 71 anos, “pergunta-se bastante” por raquetes elétricas antimosquitos, mas por ali, para os eliminar, apenas se vende inseticida.
“Depois passa, quando começar a chover já ninguém pergunta pelas raquetes”, vaticinou o empresário.
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11 de outubro de 2012
@Lusa
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