À exceção de um surto de Dengue na ilha da Madeira em 2012, os casos do vírus registados em Portugal são importados, ou seja, provenientes de países com áreas endémicas. No entanto, tal como em outros países do sul da Europa, foi identificada nos últimos anos a presença de mosquitos transmissores do vírus, embora ainda não tenham sido detetados agentes da doença nestes insetos.
Em alguns dos destinos de férias mais populares entre os portugueses, como os países tropicais, o risco de exposição ao vírus da Dengue é significativo, com especial destaque para o Brasil, que até agosto de 2024 registou o maior número de casos a nível mundial.
Se costuma viajar para destinos de clima quente, como os da América do Sul, América Central ou outros com condições semelhantes, é importante saber como se prevenir e proteger, reconhecer os sintomas e agir de forma adequada caso suspeite de uma possível infeção pelo vírus.
O que é a Febre de Dengue e como é transmitida?
A Febre de Dengue é uma doença provocada por um vírus do género Flavivirus que se hospeda no organismo através da picada de mosquitos infetados. Esta doença é mais prevalente em países de clima tropical e subtropical, que oferecem condições ideais para a sobrevivência e reprodução destes insetos.
A transmissão da Dengue ocorre exclusivamente através da picada de mosquitos infetados, e não de pessoa para pessoa. Assim, é possível estar em contacto com alguém com Dengue sem risco de contágio, o que impede a propagação da doença em países onde o mosquito vetor não está presente.
Quais os principais sintomas?
Em geral, os sintomas da Dengue começam a manifestar-se entre quatro a dez dias após a picada de um mosquito infetado e duram cerca de sete dias. Aproximadamente uma em cada quatro pessoas infetadas não apresenta quaisquer sintomas, ou manifesta apenas sinais ligeiros e pouco específicos.
Os sintomas do vírus, quando ocorrem, podem ser facilmente confundidos com outras doenças comuns como, por exemplo, a gripe, e incluem:
- Febre alta e repentina;
- Dores de cabeça fortes;
- Dor atrás dos olhos;
- Dor muscular e articular;
- Náuseas;
- Vómitos;
- Gânglios inchados;
- Manchas vermelhas na pele que aparecem entre três a quatro dias após o início da febre.
As pessoas que apresentam sintomas de Dengue geralmente começam a melhorar em uma ou duas semanas. No entanto, a doença pode evoluir para um quadro mais grave, conhecido como Dengue Hemorrágica, em que, além dos sintomas iniciais, o doente apresenta hemorragias (através das fezes, vómitos, sangramento nasal e nas gengivas) e dor abdominal. Nestes casos, trata-se de uma emergência médica, que exige acompanhamento urgente, pois o seu agravamento pode ser fatal.
Como é feito o diagnóstico?
Dada a ambiguidade dos sintomas, o diagnóstico da doença pode ser complexo, uma vez que pode ser facilmente confundida com outras patologias, como malária ou febre tifóide. Deste modo, o processo de diagnóstico deve ter em consideração a avaliação do contexto clínico e testes laboratoriais.
- Avaliação clínica: O médico irá analisar o historial clínico e as viagens recentes do paciente. Detalhes como os locais visitados, datas, possíveis picadas ou contacto com mosquitos podem ajudar o médico a relacionar os sintomas com as zonas endémicas registadas na altura, facilitando a identificação de uma possível exposição ao vírus.
- Testes laboratoriais: A confirmação do diagnóstico é feita através de análises específicas aos fluídos ou sangue do doente, que visam identificar a presença do vírus ou de anticorpos.
O período durante o qual o vírus pode ser detetado no sangue é curto. Por isso, o teste molecular (PCR), que identifica a presença ativa do patógeno no organismo, deve ser realizado na primeira semana após o início dos sintomas. Após esse período, o teste serológico torna-se o mais indicado, pois permite detetar a presença de anticorpos específicos contra o vírus.
Como prevenir a infeção?
A prevenção é essencial. Se planeia viajar para um país de clima quente, tropical ou subtropical, informe-se sobre possíveis endemias de Dengue nas regiões que pretende visitar. Na presença do mosquito transmissor, é importante adotar medidas preventivas, focadas na proteção contra picadas de mosquitos, incluindo:
- Aplicar repelente de mosquitos com composto DEET a 50% de acordo com a quantidade e frequência recomendadas na embalagem;
- Usar roupas largas e claras, que cubram o máximo possível do corpo;
- Dormir com redes mosquiteiras;
- Seguir as orientações das autoridades de saúde locais;
- Evitar áreas onde os mosquitos se reproduzem, como águas paradas.
A infeção prévia por Dengue não confere imunidade duradoura; assim, uma nova exposição pode resultar numa reinfeção, que pode até manifestar-se de forma mais grave do que a primeira.
Atualmente, existe em Portugal uma vacina, indicada apenas para pessoas entre os 6 e os 45 anos com história prévia de infeção pelo vírus. Esta restrição deve-se ao facto de a vacina ser mais eficaz em indivíduos previamente infetados, pois promove uma resposta imunológica mais forte. A sua administração em pessoas que nunca tiveram Dengue pode aumentar o risco de doença grave em caso de infeção futura.
Qual o prognóstico e tratamento?
O prognóstico e o respetivo tratamento vão depender da gravidade da infeção.
Dengue clássica: Na maioria dos casos, a doença tem um prognóstico favorável. Como não existe um tratamento específico para a infeção, a abordagem baseia-se no alívio dos sintomas e inclui repouso, ingestão abundante de líquidos e uso de analgésicos, como o paracetamol. É importante evitar medicamentos como ibuprofeno ou aspirina, a menos que o médico indique o contrário, pois estes podem aumentar o risco de hemorragias. Geralmente, os sintomas desaparecem em uma a duas semanas, levando a uma recuperação completa.
Dengue grave: Também conhecida como febre hemorrágica da Dengue, esta é uma complicação potencialmente fatal. A taxa de mortalidade pode atingir até 20% sem tratamento adequado, reduzindo para menos de 1% com a intervenção médica atempada. Os fatores de risco incluem infeções anteriores com um serotipo diferente do vírus, idade (com maior vulnerabilidade em crianças e idosos), comorbidades e o acesso tardio a cuidados médicos. Nestes casos, a hospitalização é essencial e o tratamento envolve administração de fluidos intravenosos, transfusões de sangue em casos de hemorragia significativa e suporte respiratório em situações de dificuldade respiratória.
Se vai viajar para um país com áreas endémicas de Dengue, agende uma consulta do viajante, onde um médico dará as orientações sobre as melhores práticas de prevenção e proteção contra a doença, como reconhecer os sintomas e os passos a seguir caso suspeite de uma infeção. A prevenção é sempre o melhor remédio e, no caso da Febre de Dengue, essa proteção começa no momento em que planeia a sua viagem.
Um artigo do médico Pedro Marques Mendes, interno de Saúde Pública no hospital Lusíadas Vilamoura e Faro.
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