Este tema vai estar em debate na quinta-feira, em Lisboa, na conferência ‘Portugal Value Meeting for Health and Care 2018’, promovida pela Nova School of Business & Economics (SBE), em parceria com a Nova Medical School e com o patrocínio da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.

O financiamento dos hospitais tem sido baseado em números e produtividade e o que se pretende é que passe a haver critérios de avaliação da qualidade dos cuidados de saúde prestados e não apenas na quantidade, explicou o investigador em declarações à agência Lusa. 

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“Esta ideia de valor, esta ideia de conhecermos os resultados de saúde por condição e ao nível do doente é absolutamente essencial para se saber o está a acontecer. Neste momento estamos completamente no escuro”, disse.

Portugal tem indicadores globais, mas não tem indicadores ao nível dos doentes e dos médicos. “A pergunta é: como se faz para escolher um hospital, como se faz para escolher um médico, com base em quê”.

“Eu posso ter sorte e viver ao lado do melhor hospital ou posso ter muito azar e viver ao lado do pior”, afirmou o investigador da Nova SBE, comentando que esta escolha é mesmo “um ato de fé”.

Deu como exemplo uma pessoa ir a duas pastelarias conhecidas e pedir um chocolate quente ou um ‘cappuccino’ sabendo de antemão que não serão muito diferentes. “Nós quando entramos num hospital achamos implicitamente (…) que vamos encontrar este tipo de equivalência entre hospitais, achamos que é mais ou menos a mesma coisa, o problema é que não é”, sublinhou.

E este “é o problema fundamental”, disse, fundamentando que “a variação dos resultados de saúde entre hospitais pode ser muito significativa”. Segundo o dinamizador da conferência, observa-se uma grande variação dos resultados de saúde nos países onde existem estes dados.

Na Alemanha, por exemplo, existe uma clínica (Martini-Klinik) que se dedica exclusivamente ao tratamento do cancro da próstata. “Se olharmos para o indicador da sobrevida a cinco anos, vemos que globalmente, na Alemanha ou na Suécia, os doentes tratados têm uma sobrevida a cinco anos de 94%” e os doentes tratados nesta clínica 95%.

Nestes números não há grandes diferenças, mas “se olharmos para os indicadores que realmente importam ao doente (probabilidade de incontinência a um ano ou a impotência a um ano) tudo se altera radicalmente”. 

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Os dados mostram que, na Suécia, metade dos homens ficam incontinentes e 80% ficam impotentes um ano depois da cirurgia. Na clínica, 6,5% dos homens ficam incontinentes e menos de 35% ficam impotentes um ano após a cirurgia. “Se há esta variação dos resultados de saúde isto significa que eu estou a financiar cuidados de saúde que não são tão bons como poderiam ser”.

“É urgente olharmos para isto por duas razões: Em primeiro lugar para o doente e para as famílias”, que poderiam ter cuidados de saúde melhores”, e em segundo lugar para o sistema de saúde que “vai incorrer em custos desnecessariamente”.

Para Marques Gomes, é preciso “fazer a gestão da saúde” como se defende que deve ser a gestão da floresta e dos incêndios. “Quando vêm os incêndios nós queremos que sejam tão circunscritos quanto possível e que sejam apagados tão rapidamente quanto possível. Na saúde é a mesma coisa, quando chegam os doentes, porque haverá sempre doentes, nós queremos tratá-los tão bem quanto possível para que a doença não passe para estádios mais graves desnecessariamente”, justificou.

O país deve preparar-se para “prevenir a doença e promover a saúde”, mas, apesar de todos falarem nesta necessidade, os gastos nesta área são apenas de 1% a 2%, lamentou.