"A meio deste ano, poderemos iniciar os ensaios clínicos [depois de os ensaios pré-clínicos que estão ainda a decorrer] e depois, em nove meses, ter os resultados para pedir uma autorização de emergência, tal como foi feito com as vacinas que estão no mercado", disse à agência Lusa o diretor-executivo da Immunethep, Bruno Santos, apontando para o final do primeiro semestre de 2022 a altura em que a vacina poderá estar pronta para a sua produção e distribuição.

No entanto, esses prazos só poderão ser cumpridos caso a Immunethep, sediada no Biocant Park, em Cantanhede, no distrito de Coimbra, receba investimento por parte do Estado para tornar o processo o mais rápido possível.

"Sem isso, o prazo será muito mais estendido. O atraso na entrada de capital irá refletir-se no resultado de quando a vacina estará no mercado", explicou, referindo que são necessários cerca de 20 milhões de euros, caso as entidades reguladoras aprovem o plano de ensaios clínicos.

 

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Segundo Bruno Santos, a Immunethep já tem vários privados interessados em investir no desenvolvimento da vacina, mas só o irão fazer quando tiverem "uma perspetiva mais clara sobre o interesse nacional em apoiar esta vacina".

"O volume de investimento que é necessário é difícil de mover em privados. Era mais rápido se o investimento fosse público. Tivemos uma pequena ajuda do Portugal2020, em que recebemos 250 mil euros, mas a Pfizer recebeu 250 milhões do Estado americano. Tentar fazer algo, com mil vez menos, é impossível", frisou.

De acordo com o responsável, o interesse privado em apoiar a produção da vacina centra-se também na possibilidade de a mesma ser usada, "por exemplo, nos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], que terão muito mais dificuldade de acesso à vacina]".

A vacina desenvolvida pela empresa sediada no Biocant apresenta "algumas características diferenciadoras", notou.

Ao contrário das vacinas da Moderna e da Pfizer que identificam apenas uma parte importante do vírus, uma proteína, a da Immunethep usa "o vírus como um todo", o que a torna mais abrangente perante variantes do novo coronavírus.

Por outro lado, como a vacina será administrada por inalação, permite uma "maior proteção dos pulmões, que é onde entra o vírus", e uma maior facilidade na sua distribuição e administração, por não exigir "nem temperaturas negativas nem um profissional de saúde que saiba administrar por via intramuscular", aclarou.

A empresa biotecnológica fundada em 2014 tem já acordos de produção, nomeadamente com uma empresa especialista sediada no Canadá, estando também a avaliar a possibilidade de se "trazer uma unidade de produção de vacinas para Portugal", referiu.

A pandemia de COVID-19 provocou, pelo menos, 2.441.926 mortos no mundo, resultantes de mais de 110,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 15.821 pessoas dos 794.769 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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