O bastonário Francisco Miranda Rodrigues contou à agência Liusa que começam a chegar pedidos de pessoas diretamente à Ordem dos Psicólogos, “que é uma coisa que não acontecia”: “Dizem que recorreram ao serviço de aconselhamento da linha SNS24, mas que não chega, que precisam de ter apoio continuado e não têm recursos e não existe resposta nos centros de saúde”.
“Apesar de criadas algumas respostas para ajudar as pessoas a lidarem com a situação, face à dimensão da crise que estamos a atravessar, essas respostas não são suficientes (…), sobretudo para quem tem mais vulnerabilidades e menos recursos”, explica.
O responsável lamenta que a situação excecional do estado de emergência por causa da pandemia de covid-19 tenha servido para encontrar soluções a vários níveis para as medidas a tomar, mas que não tenha ajudado a desbloquear um concurso de 2018 para contratar 40 psicólogos para os centros de saúde, que ainda continua por terminar.
“É difícil perceber (…). Há 10.000 contratações a decorrer para os inquéritos epidemiológicos, mas não há dinheiro para pagar os 250 da proposta de há três ou quatro anos atrás para os cuidados de saúde primários”, disse o bastonário da Ordem dos Psicólogos, sublinhado que os dados das necessidades a este nível, face à pandemia, até estariam já desatualizados.
“Há imensas pessoas em sofrimento a verem a sua vida a degradar-se, sem dinheiro, a ficarem sem emprego, basta olhar para aquelas áreas como a cultura, a restauração ou o turismo. O impacto económico está a causar mais problemas e a ter impacto psicológico tremendo”, afirmou.
“A isto juntam-se os lutos, com os mortos a aumentarem, e a dificuldade que é as pessoas terem de lidar com esta situação, além do aumento no número de internamentos o que faz com que haja mais pessoas com dificuldades em lidar com a ansiedade e depressão ligadas a essas situações”, acrescentou.
O bastonário reconhece que o apoio criado através da Linha SNS24 e com alguns psicólogos nas escolas, mas sublinha que, a população em geral continua com o mesmo número de respostas: “O Governo talvez tenha contratado entre 30 a 50 profissionais temporariamente nos regimes de resposta à pandemia, mas isso é insuficiente”.
“Antes de culpabilizar o comportamento que cada um tem de ter, e tem de ter mesmo, é essencial que cada um faça o que puder para ter um comportamento que o proteja a si e aos outros, olhando para isto como esforço essencial para ver a luz ao fundo do túnel, para que os que são mais vulneráveis do ponto de vista da saúde física consigam ver benefícios da existência de vacinas”, defendeu.
Sublinha que “nem todos estão nas mesmas condições para fazer este esforço” e diz que a cada mês de crise pandémica “há cada vez mais pessoas que têm dificuldade em fazer isso sozinhos”.
Francisco Miranda Rodrigues destaca ainda a urgência de dar resposta aos profissionais de saúde que estão na linha da frente: “Já estamos a um nível de exaustão dos profissionais de saúde em que não bastará a resposta que é dada atualmente”.
“Estes profissionais estão num nível de ‘burnout’ em que precisam de outro tipo de apoio e esse apoio não é dado por estas intervenções breves [da linha sns24]. Podem ser à distância, mas têm de ser mais prolongadas, com mais sessões e, para isso, o SNS não tem capacidade de resposta”, afirmou.
Afirmando compreender que “são muitas as prioridades porque é preciso chegar a muito lado ao mesmo tempo”, o bastonário recorda: “A saúde mental não é de menor importância. As pessoas também morrem devido a este impacto e sofrerão durante muitos anos”.
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