Apesar das causas desta quebra ainda não terem sido apuradas, o estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) afirma que “a associação entre o início da pandemia e a redução desta procura é evidente”.
Como explicações para esta redução, aponta “a consciência moral de não sobrecarregar serviços que estão concentrados na resposta à pandemia, a limitação de deslocação e isolamento social/quarentena, dificuldades em encontrar transportes ou mesmo o evitar a exposição ao risco de contaminação”.
Também pode ter como causa “uma redução natural das razões que motivam a ida às urgências como acidentes de trabalho, acidentes rodoviários, procura por baixas profissionais momentâneas, gripes e constipações com sintomatologia pouco grave, menos traumatismos desportivos, etc”.
Mas estas causas poderão ser contrabalançadas por outras potenciadas por uma maior permanência em casa e isolamento social como acidentes domésticos, aumento do número de casos de violência familiar no domicílio ou criação de dependências.
O barómetro pretendeu estudar a procura dos serviços de urgência durante o primeiro mês de pandemia, tendo em conta que a proliferação da pandemia covid-19 veio provocar alterações no padrão de utilização do Serviço Nacional de Saúde.
Para isso, analisou a série histórica de urgências em Portugal continental entre 2014 e 2019, em que constatou “uma certa homogeneidade nos valores”.
Durante o mês de março de 2020 foram registados 295.451 episódios de urgência, um número que “está fora do limite do intervalo de confiança estimado para os meses seguintes de acordo com a série histórica”.
“Este valor é estatisticamente diferente da média global observada nos três anos anteriores de acordo com cada Administração Regional de Saúde (ARS) e cor da triagem de Manchester [sistema de triagem por prioridade nas urgências hospitalares]”, referem os investigadores em comunicado.
“Como expectável, as ARS Norte e Lisboa e Vale do Tejo concentravam o maior volume de episódios ao longo da série, e apresentaram grandes reduções em valores absolutos em março de 2020”, enquanto a ARS Alentejo apresentou “a menor redução percentual do número de episódios sendo concomitantemente a região do país onde houve menos casos confirmados de covid-19” em Portugal.
Entre os efeitos positivos, o estudo realça “a redução de urgências de cor verde”, contribuindo para a redução das “urgências inadequada” em Portugal, “o país onde se utiliza mais a urgência/emergência hospitalar ‘per capita’ no espaço da OCDE”.
Contudo, alerta, “a redução de urgências de cor amarela poderá não só ter um impacto direto na não resolução dos atuais problemas que deixaram de ser expressos em procura, como no adiar de situações que se tornarão mais graves no futuro”.
“O possível adiamento da procura expressa poderá provocar um impacto direto na saúde dos indivíduos e um aumento do ‘stock’ de doença que terá de ser atendido numa forma mais grave e diferida”, sustentam.
Os investigadores ressalvam que este estudo é realizado durante o decurso da pandemia e apresenta algumas limitações decorrentes desta situação, como a falta de informação sobre as características da utilização destes serviços.
Portugal regista hoje 246 mortes associadas à covid-19, mais 37 do que na quinta-feira, e 9.886 infetados (mais 852), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde.
De acordo com os dados da DGS, há 9.886 casos confirmados, mais 852, um aumento de 9,4% face a quinta-feira.
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