O alerta surge nas vésperas de se assinalar o Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, 23 de maio, pela voz da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), da Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO), da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI) e da Associação Portuguesa dos Bariátricos (APOBARI).

Em declarações à agência Lusa, a presidente da SPEO, Paula Freitas, afirmou que a pandemia poderá ter impacto nas listas de espera para cirurgia bariátrica e “no número de doentes a quem vai ser proporcionado cirurgia este ano” devido ao cancelamento das consultas.

“As consultas presenciais a nível hospitalar foram abolidas a menos que fosse urgente e eu falo pelo Hospital São João [no Porto] onde trabalho”, disse a endocrinologista, contando que desde a semana passada estão a fazer “um esforço enorme, a tentar realizar seis a oito consultas por manhã”.

Os médicos esperam “ter condições, e se tudo melhorar”, para “tentar recuperar não só as listas de espera que já existiam, mas também o que se passou nestes últimos meses”.

Por outro lado, profissionais de saúde e doentes temem que as dificuldades económicas que já se estão a sentir na sequência da pandemia de COVID-19 e a paragem dos tratamentos façam aumentar os números da obesidade no país.

Também o presidente da ADEXO, Carlos Oliveira, manifestou preocupação à Lusa com o possível aumento das listas de espera para cirurgia, uma vez que “há pessoas que ainda nem sequer estão em lista nenhuma” e a precisar de consulta e de tratamento.

“Se acham que a saúde é cara experimentem a pandemia. Neste momento já experimentámos a pandemia”, disse, defendendo que estes doentes têm de ser tratados.

“Quando se trata a obesidade estamos a tratar simultaneamente problemas cardiovasculares, problemas respiratórios, problemas articulares, diabetes e alguns cancros. Por isso, não fazer este tratamento significa que todas estas doenças vão crescer”, advertiu.

A presidente da APOBARI, Marisa Oliveira, salientou igualmente a importância do acesso às cirurgias, porque contribuem para tratar muitos casos de forma quase definitiva, melhorando a qualidade de vida destas pessoas que deixam de ser “grupo de risco”.

“Mesmo durante a pandemia é preciso continuar a tratar cirurgicamente as pessoas com obesidade, pois além de estarmos a tratar esta doença, estamos também a diminuir o risco de complicações em caso de infeção por covid-19”, sustentou Marisa Oliveira.

Os especialistas e doentes lembram ainda que a obesidade é uma doença que representa um fator de risco para desenvolvimento de complicações no contexto de infeção por COVID-19.

“Os estudos demonstram que doentes com obesidade, sobretudo com obesidade mórbida, têm um risco agravado de ter complicações quando infetados”, porque muitos têm doenças associadas, como diabetes, apneia do sono, problemas respiratórios, doenças cardiovasculares, o que pode fazer com que “tenham desfechos piores”, disse Paula Freitas.

Segundo a especialista, as maiores taxas de mortalidade por COVID-19 têm-se verificado em doentes mais idosos, doentes com obesidade mórbida e doentes com patologias cardiovasculares.

“É fundamental lembrar que, tal como a COVID-19, a obesidade também é um problema de saúde pública em Portugal e tem de ser tratada como tal”, defendeu Carlos Oliveira, sublinhando que é preciso “olhar com seriedade para a necessidade de comparticipação do tratamento farmacológico e sobretudo promover os hábitos de vida saudáveis para que quem já tem excesso de peso não agrave o seu problema devido à pandemia”.

Os dados sobre o impacto da pandemia na obesidade infantil em Portugal ainda não estão disponíveis, mas a APCOI estima que o confinamento tenha um impacto direto no peso corporal das crianças, que poderá traduzir-se num aumento médio de 10%.

Se cada criança por dia ingerir em média cerca de 200-300 calorias extra sem ter aumentado na mesma proporção o seu gasto energético com exercício, poderá ter sofrido um aumento de peso de pelo menos dois quilos nos últimos dois meses, estima a APCOI.

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