Quase um ano depois, com Trump fora da Casa Branca, a estrela de Cuomo parece perder força. O governador, que está no terceiro mandato, enfrenta uma pressão crescente pelas mais 15.000 mortes que aconteceram em casas de repouso.
O governo de Cuomo foi obrigado a rever e aumentar o número de 8.500 óbitos quando um relatório da Procuradoria do estado de Nova Iorque destacou que havia subestimado o número.
No fim da semana passada, uma conselheira de Cuomo admitiu que a informação foi retida porque temiam uma investigação do Departamento de Justiça do governo Trump.
Na segunda-feira, Cuomo admitiu pela primeira vez que o seu governo foi lento ao divulgar a informação e que o atraso gerou "ceticismo e cinismo, e teorias da conspiração que aumentaram a confusão". Mas não pediu desculpas e negou as acusações de ocultar o tema, algo que abala sua popularidade.
O Legislativo estadual ameaça agora retirar os poderes executivos que concedeu a Cuomo quando a pandemia atingiu Nova Iorque em março do ano passado.
Uma investigação do Siena College Research Institute mostra que 51% dos moradores do estado aprovam a gestão de Cuomo, contra 56% anteriormente.
"A estrela caiu bastante", afirma Jacob Neiheisel, professor de Ciência Política da Universidade de Buffalo, que destacou uma "reavaliação" da gestão de Cuomo sobre a pandemia.
As conferências de imprensa cotidianas de Cuomo foram assistidas por milhões de telespectadores, que procuraram informações confiáveis e um pouco de tranquilidade, enquanto Trump espalhava confusão e declarações que contradiziam os especialistas do governo.
Sam Abrams, professor de Ciência Política da Sarah Lawrence College, afirma que os americanos se viraram para os líderes locais quando a confiança no governo federal "afundou".
Cuomo - filho do ex-governador Mario Cuomo e um personagem da política de Nova Iorque há 40 anos - era considerado "um valentão e arrogante", mas foi um "estadista, um líder corajoso e considerado, na comparação com Trump", opina Abrams.
Alguns analistas vinculam a sua queda de popularidade à saída de Trump da Casa Branca.
Quarto mandato?
"Agora temos um governo em Washington que pode refletir sobre a COVID-19 de maneira honesta, ouvir a ciência e fazer a comunicação de maneira eficaz", disse o analista político Lincoln Mitchell, da Universidade de Columbia. "Não conheço ninguém, nem mesmo em Nova Iorque, ou Washington, que continue a assistir às suas entrevistas coletivas", completa.
Cuomo não é o único democrata que parece estar a pagar o preço de uma Casa Branca mais racional, que baseia as políticas na ciência.
Gavin Newsom, o governador da Califórnia, onde a pandemia se acelerou nas últimas semanas, depois de ter sido controlada na primavera, também registou uma queda na sua popularidade, aponta Abrams.
Cuomo, que não é conhecido pela modéstia, foi alvo de críticas por publicar em outubro o livro "Crise americana: lições de liderança na pandemia de COVID-19", quando o vírus estava longe do controlo. "Foi um absurdo", opina Mitchell.
No auge da "Cuomomania" no ano passado, alguns democratas sugeriram que Cuomo deveria substituir Biden na corrida presidencial. Outros mencionaram-no como futuro procurador-geral.
Agora, os analistas questionam se os atuais problemas de Cuomo estimularão a ala mais à esquerda do Partido Democrata, a qual enfrenta com frequência, a desafiá-lo nas primárias, caso tente disputar o quarto mandato em 2022.
"O seu pai cumpriu três mandatos e perdeu o quarto. Acredito que existe uma parte de Andrew Cuomo que deseja superar o pai", disse Mitchell. "É um político muito poderoso, astuto, eficiente, assim, possivelmente será reeleito, se disputar outra vez", completou.
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