Costumamos, geralmente, ouvir nos tempos atuais mais expressões como esta: “Não contem connosco!”. Mas sublinho que a nossa opinião é que “Contem connosco!”. E a que me refiro, com tanta convicção? Pois, passaram mais de 10 anos a investir nesta área, a formar pessoas muito competentes, a disseminar estratégias, a ensinar modelos, a difundir a mensagem, a mostrar como conseguimos mudar comportamentos. Por isso, acredito que as duas palavras certas são: “Contem connosco!”.

Agradeço, claro, a gentileza do convite para a perícia estratégica do tema. Os peritos são ouvidos, e bem, mas não têm a força exponencial da massa cognitiva e produtiva dos que representam a evidência e o esforço diário de muitos.

Pois bem, temos finalmente o Plano Nacional dedicado à Literacia em Saúde até 2030: O Plano Nacional de Literacia em Saúde e Ciências do Comportamento 2023-2030. Filho do anterior Plano de Ação para a Literacia em Saúde 2019-2021. E o plano inova, pois introduz dois termos essenciais que andamos a trabalhar precisamente há mais de uma década: as ciências comportamentais. Saber como age o ser humano e como se mudam comportamentos é, na verdade, o desejo mais profundo da promoção da saúde, muitas vezes pouco revelado.

Desde 2012 que insistimos no investimento nas ciências do comportamento para formar especialistas em literacia em saúde. Ora, se temos especialistas em literacia em saúde e estão bem visíveis, porque não constam do Plano Nacional da Literacia em Saúde? Eles são aqueles que, através de modelos de literacia em saúde, de práticas constantes, de projetos de intervenção, conseguem articular um conjunto de fatores e atuar sobre determinantes para investir nessa tão desejada mudança de comportamentos em saúde, promovendo decisões mais acertadas em saúde.

E, por isso, é indissociável a mudança de comportamento de um conhecimento profundo do próprio comportamento (capacidade, oportunidade e motivação) para depois se conseguir um melhor acesso, compreensão, avaliação e uso dos recursos de saúde no dia-a-dia.

Por isso reforço e sublinho: “Contem connosco!” para uma implementação ajustada, coerente, eficaz do Plano que agora foi publicado, para um olhar atento e interventivo no observatório de literacia em saúde, na qualidade e acessibilidade da informação e saúde, na melhor comunicabilidade, na definição dos indicadores, no desenvolvimento de projetos e materiais de promoção da literacia em saúde, na consistência do repositório de boas práticas, entre outras vontades refletidas no Plano. Para um ecossistema mais robusto, onde a saúde per si não vale sem estar também com o social, a economia, o cultural, a educação e a política. Pelo menos estes.

A ativação de cada indivíduo só se faz se ele considerar que é significativa a mudança (o Plano fala efetivamente do investimento na razão e emoção). As políticas públicas carecem de intervenções eficazes para justificar o seu mérito.

O Plano Nacional de Literacia em Saúde e Ciências do Comportamento tem o mérito da legalidade, da abordagem integral, da divisão em estratégia e ação holística. Segmenta alguns parceiros com que a Direção Geral da Saúde (DGS) trabalhou, mas, de forma limitada, esqueceu outros, como os especialistas em literacia em saúde e a sociedade científica que a encabeça (SPLS). Por isso, acredito que a DGS conte connosco nesta implementação e ação de ser mais eficaz, passando do papel à realidade. Ativar e intervir, sempre com ritmo. “Contem connosco!”.