Em Bruxelas, os líderes europeus reúnem-se pessoalmente pela primeira vez em cinco meses, numa cúpula para avançar para um acordo sobre o seu plano de recuperação pós-coronavírus.

Nesta sexta-feira, a Índia tornou o terceiro país do mundo em número de infecções, depois dos Estados Unidos e do Brasil. Em apenas um dia, 35.000 novos casos e 700 mortes foram notificados.

As autoridades ordenaram reconfinamentos locais para conter a propagação da epidemia, que já matou 25.602 pessoas, o que representa 18 mortes por milhão de habitantes, um número relativamente baixo, se comparado aos Estados Unidos (417 mortes por milhão de habitantes) e Brasil (365 mortes por milhão de habitantes), de acordo com cálculos da AFP com base em fontes oficiais.

"O medo da infeção é real (...) Não desaparecerá até que haja uma vacina. Enquanto isso, tenho que continuar a lutar e a tentar salvar vidas", diz Showkat Nazir Wani, médico que trabalha em uma unidade de terapia intensiva do Hospital Sharda, nos arredores de Nova Déli, sobrecarregado pelo número de pacientes. Em várias partes do mundo, o drama dos profissionais da saúde é o mesmo.

No Panamá, onde as infeções dispararam, os médicos aumentaram os seus protestos, devido à falta de recursos humanos e materiais. "Sou médico, não mártir", "cuidem de nós para que cuidemos de vocês", exclamam os médicos panamenhos nas manifestações.

Em Espanha, os médicos exigem o fim da insegurança no emprego com contratos decentes.

Contágios subestimados no Brasil

No total, o número de mortes por coronavírus no mundo supera os 590.000, e há quase 14 milhões de casos registados oficialmente, segundo uma contagem da AFP.

No Brasil, onde já existem mais de 76.000 mortes, a barreira simbólica de dois milhões de infeções também foi superada na quinta-feira. E a pandemia não dá sinais de trégua. Em apenas 24 horas, foram registadas mais de 45.000 novas infeções.

"Dois milhões é um número simbólico, porque não temos testes em massa. Provavelmente há quatro ou cinco vezes mais. Os cálculos mais pessimistas apontam para dez vezes mais", disse à AFP o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas e do Hospital Albert Einstein de São Paulo.

Em toda América Latina, as infeções somam mais de 3,6 milhões, e já existem mais de 154.000 mortes, segundo cálculos da AFP.

Nos Estados Unidos, onde a pandemia continua a avançar e já existem 3,5 milhões de infeções e mais de 138.000 mortes, a Florida parece ser o novo epicentro da tragédia.

Nas últimas 24 horas, o estado registou 156 mortes e 14.000 casos, números que superam os da Califórnia e do Texas, duas regiões também altamente afetadas. No entanto, o governador da Florida, Ron DeSantis, não ordenou novos confinamentos e recusa-se a aprovar o uso obrigatório da máscara em ambientes fechados. Além disso, planeia reabrir totalmente as escolas em agosto.

Moradores de Barcelona: fiquem em casa

Em várias partes do mundo, as autoridades acreditavam ter controlado a pandemia e optaram por relaxar o confinamento por razões económicas, sociais, ou políticas.

Em alguns países, como Espanha, já existem mais de 150 novos focos de contágio, forçando o restabelecimento das restrições.

Nesta sexta-feira, as autoridades catalãs pediram aos habitantes de Barcelona, a segunda maior cidade do país, que fiquem em casa e saiam apenas se necessário, devido ao aumento do número de casos.

Meritxell Budó, porta-voz do governo catalão, explicou que estão proibidas reuniões de mais de dez pessoas, a capacidade de bares foi reduzida, e teatros, cinemas e outros locais de entretenimento serão fechados.

As autoridades catalãs já tinham decretado esta semana o confinamento de 160.000 pessoas na região da cidade de Lérida.

Em Israel, onde o desconfinamento foi realizado prematuramente, como reconheceram as suas autoridades, o governo decidiu restabelecer a partir desta sexta-feira novas medidas pontuais, especialmente em locais de lazer e nos finais de semana, a fim de "evitar um novo confinamento geral".

Acordo histórico?

Enquanto isso, em Bruxelas, os líderes europeus tentam encontrar um acordo. "As diferenças ainda são muito, muito grandes (...) espero negociações muito difíceis", disse a chanceler alemã, Angela Merkel, cujo país ocupa a Presidência da União Europeia.

Para tirar a UE da recessão, Bruxelas propôs um plano de 750 mil milhões de euros, uma quantia que tomaria emprestada dos mercados em nome dos 27, criando assim uma dívida comum - um marco na história do projeto europeu.

Os países chamados "frugais", adeptos do rigor fiscal (Holanda, Dinamarca, Suécia e Áustria), questionam o valor do fundo, que beneficiaria especialmente os do sul, e a sua distribuição, uma vez que preferem que haja mais empréstimos e menos subvenções. "É o momento da verdade (...) para a Europa", resumiu o presidente francês, Emmanuel Macron.