Para alcançar estes resultados, os investigadores utilizaram um questionário, um simulador de condução e um estudo observacional de tráfego real e concluíram que os condutores com perda auditiva são mais cautelosos e atentos: os condutores com perda auditiva olham, com mais frequência, para os espelhos frontal e lateral do que os condutores com audição saudável e, em dias de trânsito ou quando as condições são mais desafiantes (chuva, por exemplo), reduzem mais a velocidade de condução.

"Este maior cuidado na condução pode estar relacionada com a necessidade natural que as pessoas com perda auditiva têm de prestar mais atenção a pistas visuais. Este é um fenómeno conhecido como plasticidade neural, no qual as partes do cérebro dedicadas à audição tentam integrar outros sentidos que lhes permitam colmatar esta falha. Por exemplo, já foi provado que as pessoas que nasceram surdas têm uma melhor visão periférica e capacidade de processar movimento, características que são muito importantes na condução", explica Pedro Paiva, audiologista.

Mas o especialista alerta também que este estudo não significa que os condutores com perda auditiva não têm que ter mais cuidado que os demais.

Outros estudos têm mostrado que os idosos com perda auditiva têm mais dificuldade de conduzir quando algo os distrai, criando mais riscos.

"Conversa com o “pendura”, música demasiado alta ou utilização de telemóveis fazem parte do quotidiano da grande maioria dos condutores. No caso dos condutores com perda auditiva, estas distrações devem ser minimizadas, de forma a garantir a segurança de todos na estrada. E a utilização de aparelhos auditivos é altamente recomendada. Há aparelhos modernos e invisíveis que até dão para conectar com telemóveis e bluetooth. Com as devidas precauções, não há razão para a pessoa com perda auditiva temer a condução", conclui o especialista.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, mais de um terço dos adultos com 65 anos de idade sofre de perda auditiva e estima-se que este valor aumente nos próximos anos, também nas faixas etárias mais novas.

Em Portugal, estima-se que o problema afete cerca de 1 milhão de portugueses mas, graças à evolução tecnológica, 90% dos casos que procuram ajuda atempadamente têm, hoje em dia, uma solução simples e acessível.