Há uma consternação que vai para além da admiração: porque eles representavam valores com os quais nos identificamos. Trabalho, família, talento, humildade.

Sentimos que se perdeu alguma coisa em nós. E isso é legítimo. O luto coletivo vive-se com partilha. Com espaço para a tristeza, com silêncio
onde não há palavras. É assim que se cuida de uma dor que é íntima, mas que também é nossa, enquanto sociedade.

O que não se deve dizer a uma mãe — ou a uma família — que perde dois filhos assim? Nada que tente “explicar” a dor. Frases feitas como “eles estão num lugar melhor” ou “um dia vais perceber porquê” ferem, mesmo que ditas com boas intenções.

Numa perda tão fora de ordem — dois filhos, um casamento interrompido, três crianças sem pai — o mais importante é estar. Dizer: “Estou aqui.” Ou apenas: “Não há palavras. Mas estou contigo.” Acima de tudo validar os sentimentos vividos neste momento.

O amor não resolve a dor. Mas ampara-a. E nestes casos, o silêncio verdadeiro vale muito mais do que uma explicação bem-intencionada. Como se explica esta perda a crianças de dois e quatro anos? Com verdade e com ternura.

As crianças pequenas precisam de saber o que aconteceu, mas dito numa linguagem que elas consigam compreender. Dizer, por exemplo: “O papá morreu. O corpo dele deixou de funcionar. Não vai voltar, mas ele vai continuar a viver no nosso coração.”

Evitar metáforas como “foi dormir” ou “foi para o céu” porque podem gerar confusão e até medo de que outras pessoas também “partam” se forem dormir ou se afastarem.

E acima de tudo, dar espaço ao que elas sentem. Porque mesmo quando não têm palavras, têm dor. E precisam de colo, de rotina e de presença.

Um artigo de Carolina de Freitas Nunes, Psicóloga diretora clínica da CogniLab.