A nova convocação do Queiroga foi aprovada hoje, naquela que seria a última sessão da fase de interrogatórios da CPI, após um órgão consultivo do Ministério da Saúde ter suspendido uma reunião destinada a abolir o chamado “tratamento precoce”, um coquetel de medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19.
A Comissão Nacional para a Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec), que depende do Ministério, não explicou a suspensão dessa reunião, que, segundo o senador Randolfe Rodrigues, membro da CPI, se deveu a “pressões” exercidas “diretamente” pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Segundo Rodrigues, o chefe de Estado “irritou-se e determinou que um estudo técnico que exige o fim do ‘tratamento precoce’ não seja analisado agora, quando a CPI está na sua fase final”.
Bolsonaro, que desde o início da pandemia nega a gravidade da crise de saúde que já causou quase 600 mil mortes no país, tem sido o principal promotor do “tratamento precoce”, apesar de inúmeros relatórios científicos terem comprovado a sua ineficácia contra o novo coronavírus.
O coquetel de medicamentos inclui, por exemplo, cloroquina, um antipalúdico que Bolsonaro defendeu no seu recente discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, que diz ter tomado quando contraiu a covid-19 e cujo uso foi defendido pelo Governo na rede pública de saúde.
Este será o terceiro depoimento na CPI de Queiroga, o quarto ministro da Saúde que o Brasil tem desde o início da pandemia.
A data do depoimento será ainda marcada pelo presidente da comissão, Omar Aziz.
A comissão parlamentar foi instalada no Senado brasileiro em abril passado e, desde então, tem apurado indícios de inúmeras irregularidades, que vão desde a defesa de fármacos ineficazes contra a doença por parte do Governo, até possíveis casos de corrupção na negociação de vacinas.
Marcada por várias polémicas e revelações, a CPI da Pandemia ouviu dezenas de pessoas, entre ministros e ex-ministros do atual Governo, especialistas em Saúde, empresários, advogados, funcionários públicos, entre outros, e abordou ainda alegadas falhas na gestão da pandemia, como a demora na aquisição de vacinas contra a covid-19 ou a crise de oxigénio no Amazonas, que levou à morte de dezenas de pacientes por asfixia.
A próxima semana deverá ser usada pelo relator da CPI, Renan Calheiros, para concluir o relatório final da CPI.
Omar Aziz informou na terça-feira que o relatório será apresentado em 19 de outubro e a votação do mesmo acontecerá no dia seguinte.
Segundo Aziz, essa data só será alterada caso a CPI encontre algum “facto grave” que mereça mais investigações.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao totalizar 599.359 óbitos e 21,5 milhões de infeções pelo novo coronavírus.
A covid-19 provocou pelo menos 4.822.267 mortes em todo o mundo, entre mais de 236,23 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
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