“Atualmente são cada vez mais frequentes episódios de ansiedade, depressão, stresse, fenómenos de dependência e de desenvolvimento de novas perturbações, associadas ao uso das novas tecnologias e do fácil acesso a redes sociais”, sustentou Jorge Bouça, que falava a propósito das VIII Jornadas de Saúde Mental, sob o tema “A Psiquiatria e a Saúde Mental - Entre as Redes Neuronais e as Redes Sociais”.
Organizado pelo Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), o encontro visa debater o impacto que as redes sociais e as novas tecnologias têm no comportamento das pessoas, assim como nas suas relações pessoais e em grupo.
“A esfera digital e virtual tornou-se um catalisador de novas formas de voyeurismo e exibicionismo, acentuando efeitos de imitação de comportamentos autodestrutivos nas camadas mais jovens, como a automutilação e o suicídio”, afirmou o especialista.
Segundo Jorge Bouça, a perda de fronteiras entre a vida privada e pública a que assistimos nas redes sociais, através da publicação de conteúdos e imagens íntimas, levanta questões éticas que serão debatidas nas Jornadas.
Outros temas como a radicalização, a violência e o apelo a causas “purificadoras” como o Jihadismo serão também abordados.
Nos dois dias do encontro “pretende-se refletir e lançar pistas sobre a interação entre a psiquiatria enquanto ciência médica, as emoções, o comportamento e o contexto social e humano onde se desenvolve o indivíduo”, sublinhou o psiquiatra.
Ainda associado às mais recentes interações com a tecnologia, a forma como o nosso cérebro reage ao excesso de utilização das mesmas, impedindo o descanso e tornando-se causa inevitável de stresse, será também um dos pontos em análise, num momento em que os estudos científicos nesta área “ainda dão os primeiros passos”.
A discussão alargar-se-á tematicamente, envolvendo um estudo efetuado por profissionais do CHVNG/E, onde se analisa a utilização de termos do campo lexical da saúde mental nos media portugueses, nomeadamente a incidência da palavra esquizofrenia, “que tem vindo a ser utilizada de forma depreciativa nos últimos 10 anos, levando a uma maior estigmatização quer do termo, quer da doença”, referiu Jorge Bouça.
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