21 de janeiro de 2013 - 17h15 
O número de insuficientes renais que fazem diálise peritoneal, tratamento em casa, aumentou 26,5 por cento entre 2008 e 2011, passando de 511 para 704 doentes, disse hoje à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.
“Tem havido um aumento lento, mas progressivo” da diálise peritoneal, adiantou Fernando Nolasco, que falava a propósito de uma notícia do Diário de Notícias, segundo a qual o Ministério da Saúde vai apostar na diálise fora dos hospitais para reduzir custos, principalmente em transportes, que representam até 30% das despesas.
Em 2011, o número de doentes que iniciou diálise peritoneal representava 9,6%, quando em 2003 se situava nos 4,8%. A maioria destes doentes tem mais de 65 anos.
Entre 2008 e 2011, o número de doentes em hemodiálise passou de 9.300 para 10.400 (15%).
Para Fernando Nolasco, “a diálise peritoneal tem o benefício de dar maior independência e liberdade ao doente”, apesar de ser uma técnica com um tempo de eficácia mais reduzido do que a hemodiálise.
Por outro lado, o doente tem de ter em casa “as condições de assepsia” necessárias e “capacidades de treino suficientes para poder manipular” os cateteres e os dispositivos sem os contaminar.
“Desde que sejam cumpridos todos os procedimentos é uma boa técnica, com uma boa capacidade de resposta”, disse o nefrologista.
Augusta Gaspar, do Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz, adiantou à Lusa que a diálise peritoneal “exige o ensino do doente”.
“Precisa de aprender a técnica e ter os conhecimentos sobre cuidados de higiene a ter no domicílio e de desinfeção da região do cateter para prevenir infeções”, explicou a nefrologia, adiantando que o doente é controlado através de consulta médica e de enfermagem.
Também as empresas que fornecem os produtos da diálise peritoneal estão em articulação com o hospital e dão apoio domiciliário aos doentes através de enfermeiros especializados.
Para Augusta Gaspar, a “grande vantagem” desta técnica é a “poupança nos transportes”, com o doente a necessitar de “muito menos idas ao hospital do que o doente da hemodiálise”.
“Esta técnica tem a vantagem de dar autonomia ao doente para fazer o tratamento nos horários que lhe dão mais jeito, mas também exige que o doente seja cumpridor”, frisou.
A médica adiantou que “há poucas contraindicações para fazer diálise peritoneal do ponto de vista clínico”, mas há outras relacionadas com o ambiente social do doente e a capacidade de aderência e de execução do tratamento.
Marta Olim, do Hospital de Santa Cruz, realizou um estudo, designado “Diálise Peritoneal Assistida. Que futuro?”, tendo concluído que o doente poderia optar por este tratamento desde que tivesse um cuidador para o apoiar.
“A conclusão a que cheguei é que eventualmente [os doentes] podiam estar interessados, mas as famílias sentiam-se muito sobrecarregadas, porque não há apoios para as famílias nestas situações”, disse a assistente social.
As equipas de cuidados continuados na comunidade, que poderiam dar este apoio, “também estão muito sobrecarregadas” e não possuem os conhecimentos relativos à diálise peritoneal.
O Hospital de Santa Cruz tem uma “consulta de opções”, em que é o doente e a família que escolhem a modalidade de tratamento que querem, segundo o seu estilo de vida e as suas necessidades.
No entanto, “percebe-se que a comunidade não consegue responder da melhor forma por falta de recursos humanos e falta de formação”, disse.
As famílias também se sentem “sobrecarregadas”: “Se houvesse um apoio das famílias em termos económicos era muito mais fácil”, defendeu Marta Olim.
Lusa