No dia em que se assinalou o Dia Mundial do Animal, 04 de outubro, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, iniciou a primeira sessão assistida por animais destinada a todos os estudantes do ensino superior que precisem de apoio na área da saúde mental, designadamente para combater a ansiedade e o stress, mas também o ‘burnout’, avançou à Lusa a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante do ICBAS, Isabel Lourinha, psicóloga em Clínica e Saúde e doutorada em Medicina Biomedicina.
“Hoje, o que aconteceu aqui, foi uma atividade assistida pela cadela [Lola], em que o objetivo terapêutico é a redução do stress imediato”, contou Isabel Lourinha, acrescentando que o que se nota nos estudantes de ensino superior é um aumento da “ansiedade e da solidão”, muito derivado às “novas tecnologias” que contribuem para a falta de contacto presencial, físico e também a falta do humano.
A sessão arranca com os alunos sentados em pufes pretos e a estrutura no início é que a cadela Lola se vá ambientando aos estudantes através do olfato, cheirando-os e pedindo festinhas. Depois de algumas tarefas desenvolvidas com os estudantes num contexto de sala, há a fase do “efeito espelho”, onde Lola vai refletir o estado de ânimo do aluno, porque a forma como o estudante se comporta com ela também tem implicação no comportamento da cadela, explicou.
Nos últimos anos, principalmente pós-pandemia, Isabel Lourinha recorda que recebe vez mais pedidos de consulta e esta atividade com a cadela Lola vem no sentido de tentar promover a saúde mental, tentando trabalhar antes de o problema surgir e tentando prevenir que as situações de ansiedade, stress ou ‘burnout’ venham a ocorrer.
“Sentimos um aumento essencialmente de níveis de ansiedade. Inclusivamente, fizemos um estudo e verificámos que, de maneira geral, em todos os nossos cursos os estudantes tiveram níveis consideráveis de ‘burnout’, sem exceção, no curso em que estavam”.
O ‘burnout’ é um estado de exaustão emocional e cognitiva, porque o corpo esteve num estado de alerta constante por vários motivos.
“Estamos numa escola que tem a perspetiva de ‘one health’, em que se considera uma abordagem que a saúde é a intersecção do humano, do ambiente e do animal e que todos se relacionam e que, se uma parte for afetada, todas as outras estão afetadas. E a covid-19 mostrou exatamente isso”.
Mercedes Fernandes, estudante do 5.º ano de Medicina no ICBAS, conta que gosta muito de animais, principalmente de cães, e considera que este tipo de atividades é inovadora nas faculdades e que a pode ajudar a lidar com o “muito exigente” curso de medicina.
“O curso em si é bastante exigente e causa muito stress em qualquer contexto e acho que, depois da [pandemia] da covid-19, houve uma grande decadência na saúde mental pelo que vi comigo e com os meus amigos.(…) Esta atividade com a Lola, pelo menos para quem gosta de animais e não tem medo, acho que permite combater essa parte”.
Lola tem um ano e meio de idade, cor preta com manchas castanhas, fez formação intensiva de animas e é também a “embaixadora da causa animal”, porque vem de um canil, referiu Luísa Guardão, veterinária e treinadora da Lola.
A treinadora e dona da Lola destaca que os animais de cor escura raramente têm oportunidade para sair dos canis e, por isso, Lola vem ajudar também a contrariar esse estigma, promovendo o não abandono dos animais.
Sobre a estreia de Lola com os universitários, Luísa Guardão afirma que Lola, no contexto em que foi colocada respondeu “lindamente”.
O ICBAS vai avançar em novembro, na época dos exames e frequências dos estudantes do ensino superior, com uma “experiência piloto”, onde a Lola vai também participar.
“É exatamente quando há o pico da ansiedade para o estudante” e a experiência piloto vai servir para ver se contribui “para um decréscimo” da ansiedade dos alunos.
No dia 10 de outubro assinala-se o dia da Saúde Mental.
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