Segundo Rui Tato Marinho, já foram identificados no mundo 100 casos desta hepatite atípica que afeta sobretudo crianças abaixo dos 10 anos.

“Pode ser o início de uma situação nova que nós ainda não conhecemos ou pode ser que se atenue, mas temos que estar preparados para os vários cenários e acho que devemos estar preparados para o pior, que chegue a Portugal”, disse o especialista à agência Lusa.

Tato Marinho lembrou que é uma hepatite que afeta “crianças muito pequeninas (2, 4, 5, 6 anos), que começou no Norte Europa, nomeadamente no Reino Unido, País de Gales, Irlanda, Escócia e que a pouco e pouco se tem estado a alastrar”, havendo já casos em Espanha, Holanda, Dinamarca e Estados Unidos.

“Ter chegado a Espanha é que levantou algum sinal de alerta, alguma preocupação”, disse, contando que na segunda-feira falou com especialistas espanhóis e nessa altura havia três casos, um deles com evolução para transplante de fígado, uma situação que estava a acontecer nalguns casos no Norte da Europa.

O diretor do plano da Direção-Geral da Saúde sublinhou que “não é normal” uma hepatite destruir tão rapidamente o fígado. “É uma coisa que chamamos de hepatite fulminante (…) agora em crianças tão pequeninas, tantos casos e mais ou menos ao mesmo tempo, com uma evolução nalguns casos graves que necessitam de um transplante de um fígado (…) é um desafio muito grande para a Medicina e para os médicos”, declarou.

Para Rui Tato Marinho, esta situação levanta “alguma preocupação”, mas reiterou que estão “preparados para o que vier por aí, à semelhança do que aconteceu com outras doenças”.

Os pediatras e as autoridades de saúde estão “a par da situação” e a equipa de transplante de pediatria – só há uma em Portugal porque são “transplantes raros” em crianças” – também está atenta e preparada para intervir se for necessário.

Apesar da causa desta doença ainda ser desconhecida, o especialista disse que a suspeita que está em cima da mesa é tratar-se um vírus ainda não identificado, mas advertiu que não se deve especular sobre a doença sem saber o que passou na realidade.

Dirigindo-se aos pais, aos avós e aos cuidadores nas escolas, Tato Marinho disse que “não vale a pena, por qualquer alteração na criança, ir a correr para as urgências dos hospitais”.

Disse que há um sinal que pode ser indicador que há um problema no fígado, os olhos amarelos (icterícia). Contudo, neste caso os sintomas são muito inespecíficos e muito parecidos com outras infeções nas crianças.

“Pode ser, por exemplo, um bocadinho de febre, vómitos, falta de apetite, dores de barriga, diarreia, a criança estar prostrada, não estar bem”, apontou.

Relativamente aos pediatras, disse que já estão alertados para a situação e para fazer mais vezes análises ao fígado.

“Muitas vezes a hepatite aguda só se deteta fazendo análises (transamínases) que em vez de terem valores de 30 a 40 podem ter 2.000 ou 3.000, o que pode ser sinal de que as células do fígado estão a morrer devido a um agente que ainda não identificámos”, rematou.