Em declarações aos jornalistas na apresentação do Dia do Euromelanoma, que se assinala a 15 de maio, Osvaldo Correia, da APCC, defendeu que Portugal tem legislação, mas não se sabe se é feita, nem como, a fiscalização.

"Há dados que provam a relação entre os bronzeamentos de solário e o risco aumentado de cancro de pele", disse o especialista, mostrando números que indicam um risco aumentado de 20% para o melanoma, de 30% para o carcinoma basocelular e 70% para o carcinoma espinocelular.

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Proibidos na Austrália

Osvaldo Correia lembrou que, na Austrália, onde os solários estão proibidos, as autoridades “perceberam cedo que não se conseguia chegar aos resultados que se queria apenas com a fiscalização”.

"Ainda por cima não se coloca o problema de acabar com postos de trabalho, pois, em Portugal, os solários estão integrados em cabeleireiros e ginásios", acrescentou.

Presente da cerimónia, que decorreu num hotel em Lisboa, o representante da Direção-Geral da Saúde, Diogo Cruz, disse que a DGS iria, em conjunto com as restantes entidades, recolher dados sobre quantos solários existem e em que locais, mas assumiu que "a legislação nacional está ainda de acordo com o que a Organização Mundial da Saúde defende".

Os dados, de 2012, indicam que cerca de 8% da população frequenta solários: "É muita gente. Mesmo que fosse apenas para evitar um ou outro caso de cancro já valia a pena [o encerramento]", afirmou o presidente da APCC, que sublinhou igualmente a necessidade de apurar os custos dos tratamentos que poderiam ser evitados com prevenção.

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"É preciso estimular o autoexame e a proteção. É preciso que as pessoas procurem o seu dermatologista, mas acima de tudo é preciso ter dados sobre o número de casos para se poderem estimar custos", afirmou, referindo-se à falta de dados sobre os cancros não melanomas no Registo Oncológico Nacional.

O responsável defendeu ainda que "há uma subnotificação" de casos, sobretudo dos não melanomas, o que dificulta as estimativas de custo e de meios necessários.

Segundo o responsável, os rastreios efetuados no ano passado, a propósito do Dia do Euromelanoma, resultaram no registo de 22 casos de melanomas, 55 casos de carcinomas basocelulares e 17 carcinomas espinocelulares. Foram ainda detetados 133 casos de queratose actínica, que é a lesão pré-cancerosa da pele mais frequente.

Segundo os dados deste rastreio, das 1.602 pessoas observadas, apenas 28% usava protetor solar em todas as atividades com exposição solar.

Assintomático e por isso mais perigoso

"O cancro de pele não dá sintomas", alertou Osvaldo Correia, dando o exemplo que um voluntário da APCC que hoje esteve na cerimónia para dar o seu depoimento.

Atílio Riccó, que foi diretor artístico da Rede Manchete nos anos 90 e realizou diversas novelas brasileiras, contou que foi numa das filmagens que coçou uma orelha e percebeu que o sangue que saia da ferida não parava.

"Cheguei a casa e contei à minha mulher, que me mandou imediatamente para o médico. Na hora, no consultório, foi retirado um cancro, com cirurgia, e daí para cá sou visto duas vezes por ano", contou o realizador à agência Lusa.

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Atílio, que hoje tem 78 anos e que era responsável no Brasil pela escolha de lugares para as filmagens de novelas, passando boa parte da sua jornada de trabalho exposto ao sol, reforçou a importância de divulgar sempre as campanhas e os cuidados a ter, lembrando que as pessoas por vezes sabem que cuidados devem ter mas não interiorizam que lhes pode acontecer a elas.

"Ainda hoje, cheguei aqui e o meu dermatologista, que está presente, observou a minha cabeça e, no próximo sábado, já lá estou para tirar novos sinais que apareceram", contou.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, Miguel Correia, defendeu que a batalha dos solários "é uma batalha que a sociedade deve travar", frisando: "Tudo o que possa ser feito para melhorar a saúde da população deve ser feito. Há sempre comportamentos desviantes com custos que todos temos de suportar".