A grande metrópole do centro da China está isolada do mundo desde 23 de janeiro, mais de um mês após o surgimento do vírus num mercado desta cidade de 11 milhões de habitantes.

Apesar da quarentena, os comboios continuam a circular pela província de Hubei, cuja capital é Wuhan. E a queda no ritmo de propagação da epidemia nas últimas semanas permite a alguns habitantes tentar voltar para casa.

"Há pessoas que chegam do exterior que poderiam provocar um novo surto da epidemia. Então, Wuhan será talvez o local mais seguro", afirma uma mulher que se identifica como Zhao, ao desembarcar com o marido de um comboio de alta velocidade na estação.

Quando a cidade foi colocada em quarentena, o casal estava na casa de parentes, na remota província de Jilin (nordeste), para celebrar o Ano Novo chinês.

Desde então, Zhao, 30 anos, e o marido estão preocupados com a família que permaneceu em Wuhan. Ambos sofreram com a desconfiança dos chineses face às pessoas de Hubei.

O casal tentou regressar diversas vezes, mas até agora a viagem tinha sido impossível de realizar pelas restrições nos transportes públicos.

"Tentamos três vezes, mas as nossas viagens foram canceladas. Não conseguíamos voltar", explica.

Para limitar o risco de contágio, os caminhos-de-ferro chineses reduziram drasticamente o número de bilhetes à venda.

Por este motivo, o comboio que passa por Hubei está quase vazio, com alguns passageiros vestidos com trajes de proteção e máscaras.

Apesar da quarentena, os habitantes de Hubei podem regressar à sua província graças a uma lei aprovada no mês passado, desde que estejam bem de saúde.

"A nossa família está em Wuhan. Tenho saudades da minha casa", disse à AFP Zhao Bojian, um adolescente de 13 anos, antes de desembarcar do comboio com o pai.

Pai e filho estavam no Japão quando a cidade foi isolada. Depois aguardaram em Xangai para acompanhar a evolução do cenário.

"Estávamos a procurar uma maneira de voltar. Ficamos fora durante muito tempo. Tudo o que quero é voltar para casa", explica o rapaz.

Hubei concentra a maioria dos mais de 80.000 casos e das 3.000 mortes registadas na China.

Na região nordeste do país, Zhao e o marido temiam as discriminações contra as pessoas de Hubei.

Foram colocados em quarentena durante 14 dias, a suposta duração máxima do isolamento, e não eram autorizados a entrar nas lojas.

"Entendemos porque as pessoas reagiam assim, precisam de proteção", afirma Zhao, no momento em que é interrompida por um funcionário da companhia ferroviária, que alerta para a proximidade dos viajantes.

O casal ainda terá que esperar pelo reencontro com a família: todas as pessoas que chegam a Wuhan passam por uma quarentena de 14 dias.

Zhao, que trabalha para uma fundação filantrópica, espera participar no esforço para reabastecer a província de Hubei.

O seu marido, Gao, afirma que está tranquilo porque o sseus pais estão bem, mas revela que outros integrantes da família foram infectados.

Este afirma que outros moradores espalhados pela China também desejam voltar à província.

"Já superamos o pior momento do medo", explica.