HealthNews (HN) – Qual é a missão do Centro de Informação do Medicamento?
Ana Paula Mendes (APM) – O Centro de Informação do Medicamento da Ordem dos Farmacêuticos (CIM-OF) foi criado em 1984. Vamos este ano assinalar os 40 anos de existência. Na altura, identificou-se uma necessidade de os farmacêuticos terem acesso a informação credível e atualizada sobre medicamentos e terapêutica. Devemos ter em mente que há 40 anos o acesso à informação era muito mais difícil. Deste modo, a Direção Nacional da OF da altura achou por bem criar uma estrutura dentro da Ordem que respondesse a esta necessidade sentida pelos farmacêuticos. O CIM-OF foi criado com uma equipa que começou a dar respostas a dúvidas colocadas pelos farmacêuticos, que decorriam da sua prática profissional diária, e começou também a produzir conteúdos técnico-científicos de modo a antecipar possíveis dúvidas e contribuir para um papel mais informado dos farmacêuticos junto dos utentes.
HN – Que marcos da história do CIM-OF destacaria?
APM – A farmacoterapia é uma área muito dinâmica. A disponibilidade da informação tem vindo a crescer cada vez mais e, de facto, é uma noção que tem vindo a ser identificada pelos centros de informação a nível internacional: tem ocorrido uma diminuição no número de consultas, ou seja, de pedidos de informação efetuados pelos profissionais, porque eles têm diretamente acesso a muito mais informação de forma autónoma. Por termos percebido essa diminuição, passámos proativamente a produzir mais conteúdo informativo. Desde 2016/2018, reforçámos muito a nossa presença no site da Ordem, a nossa presença digital, a produção de conteúdos, como e-Publicações, Breves Questões Terapêuticas, que estão disponíveis no site da Ordem. Temos também vindo a dinamizar sessões informativas, com um formato webinar, que têm também tido uma grande participação. E a nossa presença a nível das redes sociais tem vindo a ser cada vez maior, com assinalável popularidade.
Destaco igualmente a criação, no início de 2021, de uma área dedicada à pandemia de covid-19, através da qual promovemos a divulgação de documentação, como normas ou artigos científicos, que plasmavam a evidência científica mais atual sobre o tratamento, a prevenção e a gestão da infeção pelo vírus SARS-CoV-2, de modo a proporcionar aos farmacêuticos informação credível e bem fundamentada que lhes permitisse esclarecer adequadamente os seus utentes.
Destaco estes marcos, estas novas atividades, e realço uma outra que iniciámos no passado ano de 2023, destinada especialmente ao cidadão. Dinamizámos dentro do site da Ordem uma área específica, denominada Área do Cidadão, e iniciámos a produção de conteúdos dirigidos à população em geral, às pessoas que vivem com doença e aos seus cuidadores, de modo a promover um maior conhecimento sobre os medicamentos (sobre a forma mais correta e segura de os utilizar), promover estilos de vida saudáveis, a prevenção primária das doenças e, de algum modo, poder contribuir para a melhoria da literacia em saúde dos cidadãos.
HN – Hoje, quais são os principais desafios do Centro?
APM – Um dos principais desafios é mostrar aos farmacêuticos que os centros de informação continuam a ter um papel muito relevante no seu dia-a-dia. Mostrar-lhes que, por vezes, a informação que está facilmente acessível em diversas plataformas, nomeadamente online, pode não ser a mais adequada, e que necessita de uma trigam e de uma análise cuidadas. É muito importante os farmacêuticos contarem com uma equipa que os pode apoiar na procura de informação baseada na melhor evidência científica e que lhes permita fundamentar a sua prática da melhor forma. Por outro lado, é também desafiante ir ao encontro das novas intervenções dos farmacêuticos, todas aquelas atividades em que têm vindo a ser envolvidos, nomeadamente pelas autoridades de saúde, como a intervenção a nível da vacinação, na renovação da terapêutica crónica, na dispensa de medicamentos em proximidade, ou na intervenção em situações clínicas ligeiras. Ou seja, o CIM-OF deverá contribuir para potenciar a intervenção dos farmacêuticos em todas estas atividades, que cada vez são mais importantes para a profissão e para a sociedade.
As nossas atividades deverão estar alinhadas com os desenvolvimentos da intervenção farmacêutica, nomeadamente apoiar o desenvolvimento de referenciais de prática profissional, ou seja, parâmetros de atuação de que os farmacêuticos disponham para auxiliar a sua prática diária; contribuir para atividades formativas, porque o conhecimento é a base de uma prática correta e informada; e potenciar o alcance da informação destinada aos cidadãos, porque pensamos que, de facto, o contributo dos farmacêuticos para a melhoria da saúde das populações e para uma melhor organização e potenciação dos recursos ao nível dos sistemas de saúde passa também por uma informação correta aos cidadãos – promover que também eles sejam agentes da sua própria saúde. Os nossos desafios passam por aí. Por um lado, prestar uma informação cada vez melhor aos farmacêuticos e, por outro, apoiar os cidadãos na sua jornada de vida, que pode envolver a doença ou outras condições fisiológicas para as quais precisam do apoio do farmacêutico.
HN – Qual tem sido o seu percurso no CIM-OF? O que é que a trouxe até aqui?
APM – Eu juntei-me à equipa do CIM-OF já há 25 anos, em 1998, recém-licenciada. Tive uma breve experiência em farmácia comunitária e depois integrei a equipa do CIM-OF. Dentro da estrutura da Ordem, estando sempre ligada à informação de medicamentos, fui participando em diversas atividades, sempre com o foco no CIM-OF. No ano passado, por ocasião da saída da anterior diretora técnica, a Direção Nacional da Ordem considerou que fazia sentido ser eu a assumir a direção técnica do CIM-OF. Foi isso que fiz, com muito empenho e entusiasmo, tudo fazendo para corresponder à confiança em mim depositada.
HN – Que oportunidades ou desafios lhe trouxe esta nova missão no CIM-OF?
APM – Em 2023, já na fase final da anterior direção técnica, desenvolvemos e propusemos à Direção Nacional da Ordem dos Farmacêuticos um plano estratégico que norteasse de algum modo os próximos anos da atividade do CIM-OF. E, de facto, tem sido muito desafiante. Tem-me dado muita satisfação poder tentar implementar esse plano estratégico, aprovado pela Direção Nacional e que envolve, por exemplo, a área do cidadão. Envolve, também, potenciar a geração de evidência por parte dos farmacêuticos, ou seja, proporcionar-lhes ferramentas para que eles possam contribuir, a nível da investigação clínica, para a geração de evidência em contexto real e, deste modo, participar na verificação dos resultados em saúde das intervenções farmacoterapêuticas.
O principal desafio tem sido conseguir levar a cabo esta implementação do plano, não descurando todas as outras atividades do CIM-OF, como, por exemplo, a edição do nosso Boletim, que é publicado desde a criação do centro e para o qual contamos com o apoio de um Conselho Editorial, que define os temas a abordar nos artigos, de acordo com as necessidades identificadas a nível profissional. Tem sido um desafio muito recompensador poder fazer a implementação deste plano ao mesmo tempo que conseguimos cumprir com todo o apoio que damos aos farmacêuticos diariamente, através da resposta a consultas, da elaboração de todas as nossas publicações, da edição do Boletim do CIM e articulação com o Conselho Editorial, mas também através do apoio que, transversalmente, disponibilizamos aos outros departamentos da estrutura da OF.
HN – Como irão celebrar os 40 anos do CIM-OF?
APM – Ainda não está definido concretamente como iremos realizar essa celebração. Provavelmente este marco será assinalado no âmbito das atividades do Congresso Nacional dos Farmacêuticos 2024, que decorrerá entre os dias 21 e 23 de novembro. Mais do que uma reflexão sobre o passado, queremos que seja uma contribuição para definir o futuro do centro. Gostaríamos de perceber com os farmacêuticos como é que o CIM-OF os tem auxiliado e como é que pode contribuir futuramente para a sua atividade diária. Tendo sempre em mente que o CIM-OF foi criado e continua a ter o seu foco no apoio aos farmacêuticos, consideramos igualmente fundamental contar com a perspetiva dos cidadãos. O apoio prestado aos cidadãos e o envolvimento dos farmacêuticos com a sociedade e com a promoção de resultados em saúde são cada vez mais positivos e cruciais. Portanto, pensamos assinalar esta data envolvendo todo o nosso público-alvo – farmacêuticos e cidadãos – e refletir em conjunto sobre que caminhos queremos que o CIM trilhe no futuro.
Entrevista de Rita Antunes
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