Para além das más condições materiais de vida, que por si só deterioram o desenvolvimento das crianças e dos jovens e a saúde de todos, a perceção de bem-estar é uma componente extremamente importante do estado de saúde geral das pessoas.
O nosso estado emocional afeta, enormemente, a nossa saúde e o nosso funcionamento na sociedade.
O bem-estar e a sua falta
Na União Europeia, a perceção de bem-estar dos cidadãos portugueses é das mais baixas. Se entre os indicadores que definem a sensação de bem-estar (FFMS. Portal da Opinião Pública) selecionarmos a ´percepção do estado de saúde´, a ´confiança que temos nas pessoas´, a ´satisfação com a vida´ e a ´confiança que temos nos partidos políticos´, verificamos que a estes indicadores de satisfação de bem-estar, os cidadãos portugueses dão valores extremamente baixos.
Muito provavelmente, muitas pessoas sentem-se angustiadas e abandonadas a si mesmas.
O que causa estas perceções?
Sabemos que estas são reações expectáveis num grupo de pessoas ou numa sociedade, quando as condições de vida da maioria são más, quando a pessoa não consegue melhorar a sua vida e quando a sociedade não protege devidamente (ou agride) aqueles que a constituem. Esta situação pode verificar-se num momento difícil ou mesmo durante um período relativamente longo, mas quanto mais a situação se prolonga, mais graves são as suas consequências para a saúde das pessoas e da sociedade.
Preocupações e sensações muito stressantes, abrangentes e prolongadas, reduzem a efetividade do sistema imunitário que protege o nosso corpo contra agentes patogénicos.
A consequência é o aumento exponencial da probabilidade das pessoas, desde muita tenra idade, desenvolverem inúmeras e graves patologias que, geralmente, se manifestam mais tarde e que com o tempo se tornam cada vez mais incapacitantes e crónicas.
Decididamente, ninguém adoece por acaso.
Qual o tratamento adequado?
Sir Michael Marmot, um médico, epidemiologista e investigador de longa data, colaborador da Organização Mundial de Saúde e professor do University College of London, contribui com uma reflexão extremamente útil e que se tornou famosa: Qual o propósito de tratar as pessoas e depois enviá-las para os locais e situações que as fizeram adoecer?
Que conclusões podemos tirar desta ´deixa´?
Quase 50 anos após a queda de um regime ditatorial e retrógrada, porque não funciona a nossa democracia como gostaríamos que funcionasse? O que fazemos tão mal que provoca tanta irritação, pobreza, sofrimento e desalento? Que podemos fazer para nos ajudarmos e ajudar os outros que se encontram inda em piores situações?
Um artigo de Manuel Fernando Menezes e Cunha, Psicólogo da Saúde e Economista do Desenvolvimento.
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