A saúde digital engloba diversas tecnologias que têm utilização crescente na nossa sociedade, nomeadamente aplicações móveis - mHealth, wearables, registos clínicos eletrónicos, telemedicina, algoritmos de decisão clínica e inteligência artificial.

Existe um grande entusiasmo em aproveitar as potencialidades da inovação tecnológica, nomeadamente para manter o coração saudável! De facto, alguns métodos já deram provas científicas de eficácia neste desígnio. Sabe-se que os programas bem estruturados de controlo dos fatores de risco vascular, por intermédio de sites na internet, mensagens personalizadas e/ou com ferramentas de monitorização à distância, são eficazes na redução dos níveis de colesterol, do índice de massa corporal e da pressão arterial na população em geral. Quando aplicados a pessoas com doença cardiovascular, podem mesmo reduzir em 40% a incidência de novos eventos cardiovasculares. Olhando para o futuro, existem várias tecnologias em avaliação, por exemplo a utilização realidade virtual para exercícios de reabilitação, ou até a tecnologia de drones e algoritmos automáticos para melhorar a sobrevivência depois de uma paragem cardiovascular!

Contudo, uma das melhores ferramentas para manter o coração saudável é manter uma atividade física regular. Neste contexto, os wearables e smartwatches são bastante fidedignos a quantificar a atividade física, e, desta forma, incentivar o utilizador a aumentar a sua performance. Recomenda-se pelo menos mais de 5000 passos por dia!

Em breve vai haver uma explosão no mercado de dispositivos capazes de avaliar a pressão arterial, sem recurso às mangas de pressão habituais (por exemplo bandas torácicas, relógios e pulseiras inteligentes). Neste momento, devemos ser cautelosos na utilização dos dispositivos com este fim. A avaliação rigorosa da pressão arterial é complexa, com várias metodologias disponíveis, e estes novos gadgets têm de ser testados rigorosamente para podermos confiar nas suas avaliações. Já há protocolos bem definidos de validação da acuidade dos novos dispositivos, que estão a ser implementados. Até lá, a utilização dos mesmos deve ser sempre discutida com o Médico Assistente.

Em suma, para obtermos ganhos em saúde com a aplicação de novas tecnologias, é fundamental existir sensatez e conhecimento dos utilizadores, atualização constante dos profissionais de saúde, e garantir a centralidade da relação médico-doente neste processo.

Um artigo do médico Manuel Santos, cardiologista da Sociedade Portuguesa Cardiologia.