O reutilização de dispositivos médicos de uso único pode ser uma realidade em Portugal a curto prazo em Portugal e significar uma poupança de 50 por cento nesses materiais, disse o professor universitário João Queiroz e Melo.

Em declarações no final da mesa redonda “A reflexão a que a troika nos obriga”, realizada hoje em Vilamoura, no âmbito do XXXIII Congresso Português Cardiologia, João Queiroz e Melo explicou que “em Portugal são consumidos anualmente cerca de 800 milhões de euros em dispositivos médicos” e, apesar de a indústria dizer que são de uso único, há alguns que poder reprocessados e reutilizados.

“Destes dispositivos médicos de uso único, um número significativo tem a marca de ir para o lixo. Mas quem determinou o uso único foi a indústria que os fez e não foi nenhum organismo técnico ou regulatório”, afirmou, sublinhando que já se sabe “que é possível alguns destes dispositivos voltarem a ser utilizados desde que sejam apropriadamente reprocessados”.

João Queiroz e Melo alertou para a “tendência para confundir-se resterilização com reprocessamento” e clarificou que “o reprocessamento volta a avaliar o dispositivo em termos de função, de biocompatibilidade, em termos de segurança e de esterilidade, fazendo isso um a um".

O professor da Universidade Católica do Porto disse que este reprocessamento de alguns dispositivos já é feito há 20 anos nos Estados Unidos e na Alemanha há 10, sendo certificado pelas respetivas entidades reguladoras.

“Há 20 anos que se faz reprocessamento de dispositivos médicos nos Estados Unidos, e não tem a ver com a troika, mas com o óbvio interesse em gastar o menor dinheiro possível. Há 10 que se faz na Alemanha e espero que em Portugal venha a acontecer brevemente”, afirmou.

Este reprocessamento pode ser feito em “alguns dispositivos de uso único que foram investigados e se chegou à conclusão de que era possível fazê-lo, apontado como exemplos vários cateteres ou tesouras de laroscopia.

“Do lote de 100 por cento, a investigação já avaliou 12 mil dispositivos e concluiu que em 30 por cento, um terço, era possível fazer o reprocessamento em segurança”, disse o investigador, frisando que a poupança pode atingir “50 por cento”.

Queiroz e Melo espera que esta prática “seja feita no país a curto prazo” e explicou que até até estar tudo pronto para poder ser feito em Portugal, os hospitais enviam os dispositivos para Alemanha, são lá reprocessados e voltam.

“É uma atividade industrial, muito séria, sofisticada, que é feita por empresas que só fazem isso”, enfatizou, acrescentando que o INFARMED teria de certificar esses dispositivos antes da reutilização.

26 de abril de 2012

@Lusa