Tem sido alvo de particular atenção pelos investigadores nos últimos 10 anos e é atualmente apontada como uma intervenção de 1ª linha no tratamento da DPOC estável, Classes B,C e D da GOLD, bem como em outras doenças respiratórias crónicas, propiciando diminuição dos sintomas, melhoria na funcionalidade, capacidade de exercício e qualidade de vida, bem como na autonomia da gestão da doença pelos doentes.
Apesar das previsões pessimistas que apontam para um aumento da prevalência, incidência e mortalidade da DPOC até ao ano 2020, a resposta das políticas de saúde dos diferentes países continua a ser insuficiente para inverter esta tendência.
Para avaliar o impacto das doenças respiratórias no internamento no Serviço Nacional de Saúde, podemos utilizar os dados do Observatório Nacional de Doenças Respiratórias, referente a 2014, onde estão representadas as seguintes patologias respiratórias, como diagnóstico principal: Asma, DPOC, Pneumonia, Fibrose pulmonar, Neoplasia pleuropulmonar, Bronquiectasias e Fibrose quística, Patologia Pleural, Gripe, Tuberculose e Insuficiência respiratória.
Nesse mesmo relatório é referido que foram excluídas outras patologias, que poderiam ser também avaliadas, como sejam as doenças da parede, nomeadamente a obesidade mórbida, as doenças metabólicas congénitas, o Tromboembolismo pulmonar (TEP) e a patologia do sono. Decidimos não inclui-las, porque os impactos destas patologias não são só respiratórios.
Os dados agora apresentados são por defeito, mas servem para mostrar a importância das doenças respiratórias e o cuidado na prevenção.
Em 2014 houve 109577 internamentos pelas patologias referidas, num total de 872.349 episódios de internamento, sendo 567.247 médicos e 305.102 cirúrgicos. Correspondem isto a 12,6% do total dos internamentos e se considerarmos só os internamentos médicos, este valor sobe para 19,3%.
A taxa de mortalidade global das doenças respiratórias referidas no Relatório do Observatório Nacional de Doenças Respiratórias é de 20%. Ou seja um em cada cinco doentes internados por estas patologias vêm a falecer no Hospital.
Benefícios generalizados, mais baixa referenciação
A evolução da medicina nesta área, associada à investigação clínica tem mostrado que a Reabilitação Respiratória evidencia benefícios de saúde muito significativos para estes doentes e simultaneamente redução dos custos diretos e indiretos com a saúde.
Contudo, verifica-se que a taxa de referenciação e adesão à Reabilitação Respiratória, assim como a capacidade de resposta dos serviços de saúde públicos ou privados, tem sido muito diminuta.
Num estudo recente foi avaliada em cerca de 1% dos doentes em Portugal e na Europa, nos países de média adesão, em 30% estendendo-se este valor para superior a 70% nos países de grande adesão.
A fraca acessibilidade do doente a um programa de reabilitação respiratória pode estar relacionado com o facto de sentir que é complicado o cumprimento do programa, por depressão ou desmotivação, por dificuldades de transporte, por escassez de recursos financeiros ou ainda por resistência do doente e familiares à mudança de rotinas, medicação, e início de novas abordagens terapêuticas como a cessação tabágica, oxigenoterapia ou exercício terapêutico.
No entanto a principal causa na muito deficiente acessibilidade reside na quase inexistente oferta de Programas de Reabilitação Respiratória, nomeadamente em Centros de proximidade, fora do ambiente hospitalar.
Um programa de reabilitação respiratória tem como objectivos proporcionar a diminuição das incapacidades físicas e psicológicas causadas pela doença respiratória através da melhoria da aptidão física e mental, alteração de comportamentos de agravamento, promovendo a reintegração social e capacitando o doente para a gestão integrada da sua doença.
Benefícios da reabilitação respiratória:
• Redução dos sintomas respiratórios de fadiga e dispneia;
• Reversão da ansiedade e depressão associados à doença respiratória;
• Melhoria da tolerância ao exercício com aumento da resistência ao esforço;
• Melhoria na habilidade para a realização das actividades da vida diária;
• Redução das agudizações;
• Redução do número de consultas não programadas e recurso ao Serviço de Urgência;
• Redução do número de dias de hospitalizações;
• Diminuição dos custos directos e indirectos relacionados com a saúde;
• Melhor integração familiar e social.
A reabilitação respiratória deverá ter o suporte técnico de uma equipa interdisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional que capacitem os doentes capazes de gerir a sua doença, apresentem de forma sustentada uma melhoria do seu estado de saúde com diminuição do recurso aos serviços de saúde, melhoria significativa na qualidade de vida e consequente melhoria na vivência familiar e social.
Um programa de reabilitação respiratória é parte integrante na terapêutica da DPOC classes B a D da GOLD e assenta em três pilares: controlo clínico, ensino e treino de exercício. As componentes psicológica e nutricional devem ter sidas em conta para uma melhoria efectiva de resultados.
Este programa deve ser alargado com benefício a outras doenças respiratórias crónicas em fase de estabilidades sintomáticas. O objectivo deste programa é dar autonomia ao doente para gerir a sua doença sabendo que a terapêutica medicamentosa e não medicamentosa, nomeadamente o exercício físico prescrito, são importantes factores para a estabilização da doença e integração social.
As doenças respiratórias crónicas e a DPOC em particular são actualmente um problema de saúde pública, grave à escala mundial, com elevado impacto ao nível individual, social, económico e político, apresentando elevadas taxas de morte prematura na população e de anos perdidos devido a incapacidade e perda de autonomia.
As doenças respiratórias têm uma elevada prevalência representando, no seu conjunto, a terceira causa de morte no mundo. São responsáveis por cerca de 19% dos óbitos, logo a seguir às doenças cardiovasculares e neoplasias. Estima-se que em 2020 as doenças respiratórias sejam responsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais, atribuindo-se à Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica mais de três milhões de óbitos. A DPOC é uma das doenças respiratórias mais comuns e que afecta cerca de 14% da população portuguesa com mais de 45 anos.
Nos últimos 10 anos a investigação revelou uma nova evidência de que os doentes com DPOC moderada já mostram fraqueza muscular, sabendo-se hoje que a DPOC é uma doença sistémica com disfunção muscular precoce. É por essa razão que a Reabilitação Respiratória deve englobar um importante componente de exercício com o objectivo de recondicionar o doente ao esforço.
Hoje, em Portugal, só um pequeno número de doentes respiratórios crónicos é privilegiado ao terem acesso a um tratamento global com Programa de Reabilitação incluído. Torna-se pois premente a abertura de Centros de Reabilitação Respiratória de proximidade, que possam dar respostas às necessidades do país.
Por António Carvalheira Santos, Médico Pneumologista, Membro do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias e Vogal do Conselho de Administração da Fundação Portuguesa do Pulmão
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