Estou habituada a ter um conjunto de sintomas relacionados com a doença inflamatória intestinal (DII) cuja gravidade tem oscilações acentuadas de acordo com a fase da doença (agudização, remissão, clinicamente controlada…). Por outro lado, sou uma pessoa que tem tendência a relativizar alguns sintomas.
Caro que estes dois aspetos me parecem intimamente relacionados e talvez sejam resultado de 17 anos de convivência com a DII e com vários quadros de anemia. E comecei por dizer isto porque preciso de dizer que muitos dos sintomas que tive e ainda tenho aquando do diagnóstico de anemia se confundem com sintomas da DII, como por exemplo o cansaço, e mesmo com efeitos secundários de alguns medicamentos que tomo, como por exemplo o enfraquecimento das unhas, do cabelo e dos ossos.
E dizendo isto penso que listei os sintomas que tinha antes do diagnóstico da anemia. Sem dúvida que o sintoma mais evidente e disruptivo era o cansaço. E quando digo cansaço não me refiro ao cansaço justificado por um dia mais agitado, mas a um cansaço exacerbado, sem uma associação direta ao trabalho.
Um cansaço enorme até a dar alguns passos, tendo de andar mais devagar ao subir degraus, tendo de parar após dois ou três degraus para me sentar. Um sono enorme que me fazia chegar a casa do trabalho e atirar-me, literalmente para o sofá e adormecer, independentemente da hora do dia. E dormir efetivamente até que a rotina de trabalho me exigisse que voltasse a levantar. Passar o fim de semana a descansar, sem energia para sair de casa seja para passear ou repor a mercearia.
As dores de cabeça; as dificuldades em pensar e concentra-me mesmo em coisas simples como uma conversa; a falta de ar e necessidade de respirar fundo mais vezes eram também sintomas no meu dia-a-dia.
Fisicamente sentia-me mal, desgastada… E psicologicamente também… Não percebia porque estava tão cansada, e sem vontade de fazer nada – fosse de cariz mais social ou de cariz profissional.
Depois do tratamento
Foi conseguir levantar-me da cama sem a sensação de ser um esforço enorme e ter vontade de, por exemplo, ao fim de semana, sair para ir às compras, ir jantar com amigos ou sair para fazer uma caminhada, passear ou apanhar ar.
Ter vontade e energia para sair da cama ou levantar-me do sofá… Chegar a casa do trabalho e poder ter “vida”, isto é, não cair no sofá e adormecer.
Sentir que o cansaço que sentia era proporcional ao trabalho que tinha realizado. Saber e sentir que se descansasse recuperava energias. Deixei de me sentir apática e sem vontade de fazer nada.
Deixei de sentir a cabeça pesada, a visão nublada, o cérebro sem conseguir pensar. Voltei a sentir-me a pessoa que era antes da anemia, mais concentrada no trabalho, capaz de descer um vão de escadas sem ficar sem ar e sem ter de parar ou me sentar.
Voltei a ter energia para sair e conversar com amigos, participar nos almoços e outros eventos de família e ir trabalhar… Continuei/continuo a ter dias de maior cansaço como todas as outras pessoas. Mas nada comparado com o cansaço que descrevi associado ao diagnóstico de anemia.
Deixei de ter um aspeto tão pálido e o meu cabelo ficou mais forte, deixou de cair tanto… Claro que ainda há algumas sequelas. até porque a minha DII não está na sua fase mais calma e alguns dos sintomas da anemia são comuns ou mesmo consequência da DII.
O que mudou
A minha anemia está associada à DII e, do que sei, pode dever-se, essencialmente, quer a perdas de sangue relacionadas com a doença, quer à própria má absorção também relacionada com consequências desta doença (DII) que afeta o sistema digestivo.
Após o diagnóstico não fiz grandes mudanças no meu estilo de vida que considero ser já um estilo de vida saudável.
Tenho DII desde os 13 anos e, talvez por isso, nunca fui de fazer grandes “asneiras” em termos de alimentação.
Não digo que nunca cometo excessos. Uma vez por entre outra, como toda a gente, faço as minhas asneiras. Mas no meu quotidiano tento fazer uma alimentação saudável e variada. Na sequência da anemia estou mais atenta à identificação de alimentos mais ricos em ferro, à análise da sua inclusão ou aumento da sua ingestão na minha alimentação diária…
Mas esta não é uma preocupação minha pois, como disse, considero que faço (e fazia já antes da anemia) uma alimentação saudável, variada e equilibrada.
O que sinto, no meu dia-a-dia, é que estou mais sensível aos meus níveis de cansaço e tento perceber a relação entre o cansaço que sinto e o meu dia para analisar se este cansaço é justificado e apropriado ou se, de facto, me parece um cansaço exagerado para o meu nível de atividade.
Estou também mais atenta à necessidade de abrandar o ritmo em alguns momentos e de perceber se o descanso está a ser suficiente para repor energias. E quando descanso e continuo cansada fico mais alerta para a necessidade de reavaliar os indicadores clínicos da anemia.
Este testemunnho na primeira pessoa foi escrito por Amélia Santos
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