São muitos os que, se pudessem, fariam uma todos os dias, como é o caso de Alex Soojung-Kim Pang. O fundador da empresa The Restful Company, professor universitário e autor do livro "Descansar – A razão pela qual conseguimos fazer mais quando trabalhamos mais", publicado pela editora Temas & Debates, é um defensor das pausas para dormir logo a seguir ao almoço. "No passado, fazer a sesta era uma parte completamente normal do dia de trabalho mas abandonou-se esse hábito", lamenta.

"Até mesmo as pequenas sestas podem ser mais restaurativas do que o café e outros estimulantes", garante o especialista de ascendência coreana. "Também potenciam a oportunidade de o cérebro consolidar coisas que aprendeu recentemente", refere ainda. Raquel Tavares, presidente da direção da Associação Slow Movement Portugal, é da mesma opinião e acredita que "as empresas poderiam ter locais para os trabalhadores fazerem essa pausa, até porque depois a produtividade é maior", assegura a antropóloga.

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De acordo com um estudo apresentado pela Universidade Católica Portuguesa e pela empresa Esporão, destinado a promover estilos de vida mais tranquilos em Portugal, quem abranda tende a ser mais feliz. Como afirmou na altura, Ricardo Ferreira Reis, diretor do Centro de Estudos Aplicados da Católica Lisbon School of Business & Economics, essa análise permitiu concluir que 82,2% dos portugueses, dos 60% que não adotam um estilo de vida calmo, deseja fazê-lo. Os que já o têm passam, por norma, mais tempo fora do trabalho, fazem mais atividades exteriores e são melhores gestores de tempo, apresentando níveis de foco mais elevados.

Esse estudo indica que uma boa gestão de tarefas e mais tempo livre para as relações familiares e sociais e para as pausas efetivas são os indicadores que mais contribuem para o bem-estar geral, tal como também sucede com as sestas. "Não é fácil abrandar, porque o mundo vive num ritmo acelerado, mas é possível, sobretudo, se se reforçarem os bons exemplos e boas práticas nas empresas", alerta mesmo Raquel Tavares, para quem viver de forma slow é algo natural, como explicou em entrevista à Saber Viver.

"Vivi numa quinta durante alguns anos e funcionar sob pressão não é algo com que me dê bem, mas o clique aconteceu em 2009, quando estava a trabalhar com adultos do [programa estatal] Novas Oportunidades e tinha 400 processos para gerir de forma rápida, quando aquilo requeria, na realidade, um processo individual para cada um. Nessa altura, li um livro de Carl Honoré, fundador do Movimento Slow, e, pouco depois, um artigo numa revista sobre o mesmo", revela a especialista, antropóloga de formação.

"Daí até à formação do movimento em Portugal foi um pequeno passo e, uma década depois, não esmoreceu porque responde a uma necessidade real e não a uma moda passageira", sublinha Raquel Tavares, uma apologista das sestas e da tranquilidade. "O slow preconiza que devemos dar o momento certo às coisas, tal como a natureza. Devagar significa fazer tudo na velocidade correta e, se estivermos sempre em atividade, sem pausas, vamos estar desequilibrados em vários níveis da nossa vida", adverte.

A importância do sono

O sono, que promove o nosso equilíbrio, também é importante nesta equação, como demonstraram vários estudos científicos divulgados publicamente. Luísa V. Lopes, neurocientista e investigadora em neurobiologia do envelhecimento no Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, explica porquê. "Em termos cerebrais, sabemos que o sono é muito relevante para a reorganização das sinapses, que são as zonas de comunicação entre as células nervosas, responsáveis pelos impulsos nervosos", sublinha.

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"O sono não é só importante para a consolidação da memória, mas também para a reorganização celular, pois é nessa altura que os neurónios conseguem fazer a limpeza celular da atividade diária", refere Luísa V. Lopes. "O sono é uma situação de baixa atividade sináptica ou neuronal e esta é crucial", assegura a especialista. "Também parece haver uma associação entre as doenças degenerativas e o sono, como indiciam vários estudos", alerta ainda. E, mais importante do que o tempo que dormimos, que é variável de pessoa para pessoa, é a qualidade do mesmo.

"Temos de passar por todos os estágios de sono e entrar num estadio mais profundo para descansar", realça a neurocientista. Para dormir melhor, tanto à noite como no período da sesta, "é preciso reduzir o ritmo antes de ir para a cama para que haja a libertação de melatonina e o sono seja induzido naturalmente", aconselha Luísa V. Lopes. Para descansar efetivamente, deve baixar os estores da divisão, para reduzir a luminosidade e atenuar também o ruído, assim como colocar um despertador para meia-hora depois.

Uma pausa de 30 minutos é suficiente. À noite, nunca deveria dormir menos de oito horas. Não fazer exercício físico à noite e não comer muito é recomendável. É altamente desaconselhado levar o computador e telemóvel para o quarto, bem como ver televisão. Deve apanhar sol durante pelo menos 20 a 30 minutos por dia para libertar cortisol, a hormona da atividade, o que ajuda também à maior libertação de melatonina à noite. "É por isso que, quando estamos na praia, sentimos mais sono", esclarece a neurocientista.