As escolas públicas, como todos os estabelecimentos de ensino, não se justificam perante os alunos, perante os pais e a comunidade. Questionadas, geralmente quando incidentes graves passam para o domínio público, as escolas públicas calam-se, isolam-se (ainda mais) e remetem tudo e todos para o “ministério”. As escolas públicas assumem assim, de forma cómoda e segura, o seu estatuto de sucursal, sem autonomia nem responsabilidade própria. A escola pública espera indicações, diretivas e instruções do “ministério” e presta contas ao “ministério”.

Uma organização assente em estruturas hierárquicas com uma longa e complexa cadeia de comando.

Os funcionários da escola pública, são funcionários públicos que não questionam nem criticam a sua entidade patronal, o “ministério”. Para isso há canais e estruturas próprias, internas, sendo indispensável, e aconselhável, seguir os procedimentos estabelecidos. Há medo e desespero nas escolas.  Não há iniciativa própria, não há debate aberto, não há inovação, não há correção de erros, não há verdadeira dedicação à criança e inclusão da instituição na sociedade.

O ministério, em Lisboa, não se justifica, nem se explica. O “ministério”, quando muito, emite um comunicado ou faz uma comunicação! Protege as suas escolas, mesmo quando as crianças sofrem com a violência real, com conteúdos e métodos desumanizados, há muito, desatualizados e descontextualizados.

O stresse emocional

Este sistema, sujeito ao poder central, cria o caos e o sofrimento crónico nas crianças, nos jovens e nos pais, nos funcionários e na sociedade. É necessário descentralizar, deslocalizar, libertar, responsabilizar e democratizar a escola para proteger a nossa saúde, em particular a das crianças.

É preciso assumir a responsabilidade pelo insucesso e pelo mal-estar social e emocional de cada uma e de todas as criança, quando entregues ao cuidado da escola. Ainda se berra na escola, se fazem observações depreciativas e se ignora as dificuldades com que uma enorme percentagem de crianças se depara. É ao adulto e ao profissional que compete resolver os problemas que não souberam ou não puderam evitar. O professor e os outros profissionais, devem fazê-lo em colaboração com, e respeitando, os pais da criança ou do jovem.

Respeito

Quando ultrapassarmos a etapa de exigir “Respeito” pelo professor, uma fase absolutamente primária e essencial, é indispensável dedicar toda a energia à etapa “Respeito” pela criança e pelo aluno. Os pais das crianças e os ex-alunos vão, muito provavelmente, agradecer e ser mais efusivos nas suas manifestações de solidariedade com os professores e os outros prestadores de serviços às crianças na escola.

Há já muito tempo que a escola não é um lugar seguro, nem agradável para as crianças. Curiosamente, quanto mais difícil é o meio socioeconómico da criança, mais problemas esta encontra na escola. Não parece justo!

Os pobres, os menos pobres e os ricos, não se misturam- nem em criança

A diferença, a segregação e a exclusão social no ensino, como nos cuidados de saúde, não passam despercebidas às crianças, nem aos seus pais, nem aos seus professores. Estas situações são, emocionalmente, traumáticas e muito stressantes. O desenvolvimento das crianças, de todas as crianças, a sua saúde e a coesão social, são profundamente afetadas pela segregação e exclusão social.

A segregação e o isolamento entre ensino público e privado, não é saudável

Os pais devem ter a liberdade de escolher a escola que preferem para os seus filhos. As escolas devem ter o mesmo financiamento e dispor dos mesmos meios, tendo em conta o trabalho que desenvolvem, com quem, e os resultados que obtêm. Todos ganhamos quando a sociedade que construímos é mais justa.

Um artigo de opinião de Manuel Fernando Menezes e Cunha, especialista em Psicologia.