As teorias da conspiração sempre estiveram presentes ao longo da história da humanidade. Até certo ponto, assim o é porque a desconfiança e suspeita em relação aos outros pode ser algo protetor, adaptativo e vantajoso. No fundo, é normal não acreditar em tudo o que nos é dito e mostrado! No entanto, esta desconfiança pode tornar-se indesejável. Segundo Karen Douglas, docente de psicologia social na Universidade de Kent, em Inglaterra, a investigação aponta para uma relação destas crenças conspiracionistas com preconceito, violência e terrorismo.

Então, mas o que são teorias da conspiração? Quando falamos em teorias da conspiração, referimo-nos a explicações secretas e não comprovadas, que sugerem a existência de um plano oculto, com objetivos sinistros, geralmente, por parte de grupos poderosos de pessoas.

Por se tratar de um fenómeno tão presente na humanidade, com consequências possivelmente perigosas, tem sido alvo de várias investigações. Afinal, porque é que algumas pessoas parecem ter uma maior tendência para crer nestas teorias? Primeiro, importa compreender que pessoas com estas crenças não são necessariamente pessoas com mentes simplistas e desequilibradas.

Na verdade, a procura destas crenças está, muitas vezes, alicerçada na procura de satisfação de necessidades psicológicas não supridas, como a necessidade de segurança, pertença, poder e autonomia. Por isso mesmo, momentos de crise, de incerteza, falta de controlo e medo (por exemplo, a pandemia do COVID-19), parecem estimular a necessidade humana para criar estrutura e dar sentido à situação, aumentando a probabilidade de crenças conspiracionistas. Crenças estas, que trazem algum conforto psicológico e sensação de controlo e segurança, necessárias ao ser humano.

Segundo os estudos feitos, existe uma correlação entre estas crenças e determinadas motivações, traços de personalidade e a perceção individual de ameaça. Assim, é conhecida uma maior propensão para esta ideação em pessoas que:

a)     Se baseiam e dependem mais na sua intuição;

b)     Tendem a ser antagonistas, ou seja, a contradizer o normativo;

c)     Têm uma maior necessidade para se sentirem especiais, superiores ou únicas (na medida em que sentem têm acesso a informação privilegiada, que a maioria das pessoas, em teoria, não tem);

d)     Veem o mundo como um lugar perigoso e sentem-se impotentes e desiludidos em relação a este;

e)     Têm menores níveis de escolaridade (o que não significa menor inteligência);

f)     São mais novos, existindo uma correlação negativa entre as crenças e a idade, ou seja, quanto mais velha a pessoa, menos provável acreditar nestas teorias.

A investigação evidencia ainda uma associação entre crenças em teorias da conspiração e pessoas com personalidades caracterizadas por:

a.     menores níveis de agradabilidade, humildade e conscienciosidade, isto é, tendência para responsabilidade, organização e para aderir a regras e normas;

b.     maiores níveis de insegurança, impulsividade e instabilidade;

c.     estranheza social e suspeição em relação às outras pessoas;

d.     uma sensação de grandiosidade, egocentrismo e manipulação.

Importa compreender que, mesmo que as teorias da conspiração não sejam algo novo, a forma como acedemos e partilhamos a informação mudou, trazendo novos desafios ao acesso a informação fidedigna, que exigem estratégias para os gerir. Não esquecendo a tendência natural para procurarmos apenas informação que confirme as nossas crenças e de descartarmos aquela que não o faz, é necessário ser crítico, não só em relação às fontes de informação, mas também à forma como a procuramos individualmente.

Proteja-se a si e aos outros da dispersão de informação não fidedigna.

Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.