Todos nós utilizamos a memória de trabalho em diversas atividades. A aprendizagem e a memória estão interrelacionadas, ambas são essenciais na construção do conhecimento; a primeira na aquisição de novas informações; a segunda na retenção dos conhecimentos apreendidos.

Cerca de 10 por cento de nós manifesta uma fraca memória de trabalho. Uma percentagem que pode aumentar de forma considerável até aos 50 por cento quando se trata de crianças e jovens com determinadas dificuldades de aprendizagem, incluindo dislexia.

A incapacidade de apreender e reter novos conhecimentos é relativamente comum entre os estudantes que sofrem desta perturbação. Os que apresentam, por exemplo, lesões cerebrais traumáticas, surdez, défices de linguagem oral ou perturbações genéticas como a Trissomia 21 também são mais suscetíveis a ter uma fraca memória de trabalho.

É fundamental que os pais e professores conheçam todas as consequências desta dificuldade ao nível da aprendizagem e quais os recursos/estratégias terapêuticas disponíveis para as minimizar.  Nunca esquecer: a memória de trabalho é um precioso alicerce na aprendizagem.  E pode ser treinada.

Tipos de memórias

Utilizamos a memória de trabalho para realizar tarefas que exigem raciocínio, como a leitura, a interpretação e, por exemplo, as contas de matemática. E quando esta não cumpre o que dela se espera os prejuízos na realização das tarefas cognitivas costumam ser avultados.  De acordo com a psicóloga Tracy Alloway, a capacidade limitada da memória de trabalho varia muito de pessoa para pessoa e está intimamente relacionada com as competências de aprendizagem durante a infância e, também, com as de compreensão da leitura.

Se essa capacidade está sobrecarregada, cometemos diversos erros. Podemos perder a concentração, a linha de raciocínio, ou até mesmo esquecer o que estávamos a fazer. Por exemplo, uma criança com fraca memória de trabalho pode levar muito tempo a copiar algo do quadro para o caderno na medida em que não consegue reter na sua mente muitos conteúdos. É obrigada a escrever palavra por palavra, enquanto o colega ao lado pode ler a frase inteira e copiá-la de imediato.

Crianças com baixa capacidade de memória de trabalho têm igualmente dificuldades em seguir instruções na sala de aula, executar tarefas mais complexas e são mais lentas na aprendizagem. O sucesso dessa aprendizagem é determinado por vários fatores, entre os quais a atenção, a motivação, e o empenho; a atenção é essencial para que consigamos compreender e armazenar na memória a longo prazo as informações que nos são transmitidas; a motivação, por seu lado, é igualmente importante na medida em que nos permite olhar com interesse para a aprendizagem dos conteúdos na expetativa de alcançarmos um determinado objetivo; o empenho ajuda a definir a quantidade e a qualidade desses conhecimentos.

Ser um bom leitor é um dos principais fatores no sucesso do processo de aprendizagem. Grande parte do nosso conhecimento é adquirido através da leitura. Alguns estudos referem que a memória de trabalho está associada às competências de leitura. A memória operacional tem um papel determinante no desenvolvimento da linguagem oral e na comunicação infantil, possibilitando a aquisição de novos conhecimentos.

A par de outras funções cognitivas, a memória desenvolve-se ao longo da primeira infância até a idade adulta, estando ativa desde os 6 anos de idade. A partir dos 7, as crianças tornam-se capazes de codificar informações visuais, sendo que aos 4 anos já conseguem ter capacidade para iniciar o processo de organização da sua memória operacional.

Vários pais queixam-se com regularidade de que o filho tem uma memória fraca e que essa dificuldade contribui para as dificuldades de aprendizagem. No entanto, há que perceber que não temos apenas um sistema de memória global. Temos vários sistemas de memória diferentes que contêm diversos tipos de informação. Vejamos:

-Memória episódica - é aquela em que guardamos os eventos do passado mais recentes, como a festa de aniversário do último fim de semana;

-Memória processual - é o nosso reservatório das competências e hábitos. Por exemplo, a ela recorremos quando andamos de bicicleta ou conduzimos um carro;

-Memória sensorial - onde colocamos os conhecimentos adquiridos durante a nossa vida. Inclui informação sobre o significado de palavras, ortografias e pronúncias. Por exemplo, quando alguém ouve uma palavra, o som é encaminhado para a memória sensorial, as experiências com a língua permitem que a pessoa reconheça o padrão de sons, em seguida a palavra é encaminhada para memória de trabalho onde a informação será processada. Entretanto, o processo de reconhecer o significado da palavra é desenvolvido na memória de longo prazo (local de armazenamento permanente de informações). O processo de resgatar informações da memória de longo prazo e estabelecer associações com as novas informações é o motivo pelo qual a memória de curto prazo é denominada memória de trabalho.

Podemos ter grande variação na capacidade destes diferentes sistemas de memória, sendo que é possível, por exemplo, termos uma grande memória episódica e, em simultâneo, dispormos de uma memória sensorial muito fraca.

Memória de trabalho

É um tipo de memória de curto prazo que cuida do armazenamento e da manipulação temporária da informação. É um requisito essencial para a aprendizagem, já o dissemos. Refere-se à capacidade de reter, organizar e manipular mentalmente a informação. É a ela, à memória de trabalho, que recorremos quando queremos lembrar o nome de alguém que encontramos na rua. Ou, por exemplo, quando marcamos o número de telefone de um amigo sem olhar para a agenda.

É importante que percebamos: a memória de trabalho é limitada tanto em capacidade como em duração. E como não consegue armazenar todas as informações, desenvolve estratégias para absorver o maior número de dados possível, normalmente os mais relevantes para cada pessoa. O adulto médio não pode conter mais do que seis ou sete bits de informação na memória de trabalho. Estudos demonstram que os indivíduos com maior capacidade de armazenar informações possuem competências para resolver maior número de itens e em grau de complexidade mais avançado. Uma vez perdida a informação dessa memória de trabalho, esta não pode ser recuperada. Ou seja, o estudante que "perder" algumas das instruções recebidas oralmente não será capaz de as recuperar sem repetição.