Segundo a Organização Mundial de Saúde, o conceito de saúde é muito mais que a ausência de doença, mas o bem-estar físico, psíquico e social, para além de uma integração do indivíduo ao meio em que está inserido. Não sendo um conceito estático, o ter saúde é resultado da gestão de uma série de decisões e/ou circunstâncias da vida diária.

Serão os atletas os indivíduos com mais saúde na sociedade em que estão inseridos? Eu voto no depende. Depende de inúmeros fatores, nomeadamente o impacto do desporto praticado nas características específicas do indivíduo, do ambiente envolvido e das suas demais escolhas de caráter emocional, físico e social. 

Em que momentos considera pertinente o acompanhamento em Medicina Desportiva? Que circunstância o levaria a agendar uma consulta nesta especialidade médica?

Enquanto médico especializado em Medicina Desportiva, o meu compromisso é garantir o acompanhamento que um atleta necessita para que a sua prestação desportiva seja potenciada mas garantindo a preservação da saúde do mesmo. Esta missão a que me proponho implica negociação, dedicação e envolvimento. 

A minha aposta assenta na sensibilização para a prevenção e na consideração dos fatores preditivos associados – o Exame Médico Desportivo tem uma importância preponderante. Porém, um diagnóstico baseado numa avaliação holística e uma intervenção com a mesma perspetiva, vê o atleta como um todo na sua função e não só e apenas um joelho, um ombro ou qualquer outra das suas partes.

Um atleta, seja ele amador, federado ou profissional, necessita que os seus hábitos e decisões se coadunem de forma harmoniosa para que os objetivos sejam alcançados com sucesso. A Medicina Desportiva, mais ainda do que diagnosticar e tratar lesões, deverá ser a gestora do acompanhamento do atleta e garantir que cada um seja munido dos recursos que necessita, à sua medida. 

A construção de um desportista envolve várias áreas complementares, pelo que sou apologista de um acompanhamento multidisciplinar em que todos os profissionais de saúde envolvidos usufruam de uma fácil comunicação entre si e que estejam alinhados nas respetivas intervenções. 

 O processo inicia-se na motivação, persistência, resiliência e gestão da frustração. A componente psicológica tem um peso tremendo na prestação de qualquer atleta. Uma mente sã e equilibrada tem a capacidade de nos levar mais longe e de gerir momentos mais delicados como o momento em que ocorre uma lesão. Em recuperações mais longas ou difíceis experiencia-se o desânimo ou até a revolta. É determinante que esse processo não impacte de forma prolongada uma vez que poderá manifestar-se sob a forma de um decréscimo bastante significativo da performance e até numa lentificação substancial da recuperação. 

As escolhas de um atleta com objetivos específicos deverão ser guiadas por um profissional especializado e certificado, e adaptadas consoante as suas necessidades: alteração da intensidade e/ou frequência dos treinos, lesão, ou outras circunstâncias. 

Deparamo-nos com uma responsabilidade acrescida: a gestão das expectativas. É crucial que seja estabelecida uma relação de confiança entre toda a equipa e o atleta, e como tal a boa comunicação, a informação e a negociação são palavras de ordem. 

Ser atleta é muito mais do que ter um qualquer desempenho desportivo, é um estilo de vida que desafia constantemente a capacidade de superação. Um rendimento desportivo notável exige um sério investimento e compromisso emocional e físico.

Não nos limitamos a acompanhar o atleta lesionado mas também o atleta saudável. Identificamos necessidades e suprimimos essas lacunas em prol da otimização do rendimento desportivo. Praticar desporto está na moda e deverá ser feito de forma consciente e segura.

Como referi anteriormente, a equipa comunicante e multidisciplinar é uma mais-valia neste processo por dar as respostas às mais variadas questões impostas. O coaching desportivo para manter o foco e motivação, a nutrição para que a capacidade física do atleta seja maximizada através da alimentação, a consulta de medicina desportiva, a ortopedia, a podoposturologia e osteopatia como respostas ao condicionamento físico, a fisioterapia e a massagem desportiva na recuperação de lesões e empoderamento do desempenho específico do desportista.

Cabe à Medicina Desportiva a missão de guiar o atleta, encaminhar, alertar para a prevenção e maximizar a função física no seu desempenho. Avaliar e considerar cada atleta na sua individualidade requer a personalização de toda e qualquer estratégia a adotar e a sua participação na tomada e decisão. 

Percebe agora a importância da boa informação? 

Atletas que nos leem, era esta a vossa perspetiva da Medicina Desportiva? Julgo, esperançadamente, estar a poder trazer uma refrescante imagem da especialidade. Para ter uma otimização do desempenho desportivo há muito mais trabalho a fazer do que identificar e tratar lesões de forma segmentar. A visão holística é o que nos permite observar um atleta ou paciente de forma funcional, no seu todo. 

Voltando à minha resposta do depende... Penso já ter respondido à questão com a minha partilha mas passo a reforçar: ser atleta não é sinónimo de ter saúde. Ter saúde é o resultado de escolhas conscientes e informadas ao longo do tempo, não somente de um desempenho físico em determinado momento. 

Ser fisicamente ativo não é o mesmo de ser um atleta profissional quer física quer psicologicamente. Qual o mais saudável? Bom, caro leitor, tem uma resposta assertiva e irrefutável? É que da minha parte, continuo a apostar no... depende!

Alegra-me que nos dias de hoje já estejamos a alcançar um nível de informação mais considerável, mas é necessário apostar no esclarecimento e partilhá-lo!

Um artigo de Gonçalo Barradas, médico de medicina desportiva com pós-graduação em medicina estética.