Com grande avidez, procuramos validação externa, como que a legitimar que somos merecedores de atenção e que somos pessoas realmente especiais. Quando procuramos isso, já nos deixámos contaminar pela ausência de amor-próprio. E a pergunta que urge é: será que conseguimos aumentar a nossa autoestima verdadeiramente?

A resposta é imediata: nem sempre. E não é fácil, porque, na maioria das vezes, nem sequer temos uma noção exata do que é a autoestima. A autoestima não se resume apenas à velha máxima de nos amarmos a nós mesmos. Não basta fazer afirmações positivas em frente do espelho como “sou capaz”, “sou incrível”, “amo-me incondicionalmente”, porque isso vai soar a mentira.

Temos uma ideia bastante limitada do que realmente é a autoestima e quais as suas dimensões. Coisas tão básicas como o conceito de identidade, a perceção que temos sobre a nossa própria pessoa, assim como as interações que estabelecemos com quem nos rodeia são geralmente negligenciadas, e estes são apenas alguns exemplos de dimensões da autoestima que são exploradas por psicólogos.

Assim, na formação da nossa identidade social e emocional, existem muitas valências que precisamos de tomar consciência, fortalecer ou até mesmo renovar.

Eis algumas dicas que, não substituindo ajuda especializada, o/a podem ajudar a refletir e a incrementar a sua autoestima.

  1. Conheça-se a si mesmo e seja autossuficiente. Quem é neste momento? Como gostaria de ser? Que tipo de felicidade pode aspirar? Não obstante sermos seres sociais, temos que ser pessoas emocionalmente autónomas e que nos auto percecionamos como valiosos para nós mesmos e dignos de desejar qualquer objetivo, por mais ousado que possa parecer.
  1. Evite afirmações genéricas que lê em livros de autoajuda. Estas “fórmulas mágicas” podem funcionar para umas pessoas e até terem um efeito momentâneo, mas resolvem o problema? Não. Ao fim de um tempo, o efeito desaparece. São afirmações escorregadias, que por não serem concretas, dificilmente são processadas como sendo verdadeiras e, por conseguinte, não resolvem nada. Para evitar este efeito, crie as suas próprias afirmações pessoais. Cada um de nós tem frases específicas que causam impacto em nós. Investamos tempo a criá-las pois funcionarão como gatilhos internos de motivação e confiança. Ainda que, por si só, não resolvam o problema da baixa autoestima, são um ótimo complemento.
  1. Elogie-se a si mesmo(a) e crie recompensas. Os autoelogios são necessários e muito úteis para aumentar a autoestima, mas importa ter em mente que não devemos fazer isso de forma exagerada ou desproporcional, caso contrário vai soar a falso e o seu efeito é nulo. De cada vez que fizer algo bem ou que alcançar um objetivo, elogie-se. Igualmente importante é recompensar-se. Por exemplo, depois de uma fase intensa de trabalho árduo, tire tempo para si. Faça uma massagem, dê uma escapadinha durante um fim de semana, desfrute de um dia para si e leia um livro, enfim, faça o que lhe aprouver. Merece.
  1. Evite comparar-se e faça um detox das redes sociais. Desconecte-se. Saia de mansinho daquilo que o/a faz sentir-se em baixo. Comparar-se com pessoas mais novas, mais bonitas, mais abundantes é tudo menos real. As pessoas manipulam as suas realidades e aquilo que parece perfeito no mundo virtual é uma fachada. Quem realmente anda feliz não tem tempo para andar a espalhar a sua vida na internet, está é a aproveitar a vida, enquanto os outros se lastimam e espreitam o que os demais andam a fazer. Desligue, não se deixe influenciar por modas e tendências superficiais e capitalistas. Ninguém é melhor do que ninguém. Faça uma dieta mental rigorosa em relação às redes sociais.
  1. Crie o seu próprio sistema imunitário emocional. Quando nos sentimos inferiores, estamos mais vulneráveis e isso tem implicações imediatas: estamos menos resistentes às críticas, à frustração, ao fracasso e tendemos a criar crenças de que o problema é nosso. As deceções doem mais e estamos sempre à espera do pior, além de que a ansiedade começa a escalar e as somatizações começam a surgir. O seu sistema imunitário emocional pode ser construído à sua medida, com ajuda profissional, mas basicamente passa por passos incrivelmente simples, e que por o serem, causam desconfiança. No fundo, precisamos apenas de nos consciencializar de que precisamos de “armas” que nos permitam proteger e que cultivem a nossa autoconfiança, assim como o saber relativizar e a resiliência. Para isso, precisa de mergulhar em si e conhecer-se. O que acha que poderá resultar consigo?
  1. Procure ajuda profissional. A baixa autoestima deixa-nos numa zona de conforto, absolutamente, ilusória e sussurra-nos que é melhor não experimentar coisas novas, não arriscar e não explorar, porque o mais provável é que nos vamos arrepender e chamar a atenção dos outros. E quando isso acontece, somos alvo de críticas e de comparação, não sabendo lidar com isso e podendo gerar até depressão, ansiedade e desgaste emocional excessivo. Procurar ajuda permite ter linhas orientadoras que nos estimulam a vontade de mudar e a perseverança em permanecer nesse processo de autoconhecimento e de mudança. Pouco a pouco, irá descobrir, em conjunto com o psicólogo, o que funciona consigo. O próprio caminho, para chegar onde quer chegar, já vale a pena. Os ganhos são imensuráveis.

A autoestima não é um afago ao ego, é um bem essencial para a nossa autopreservação. Deixá-la nas mãos de críticas alheias é anular-se. Não o permita. Merece ser feliz em toda a sua plenitude!

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.