Como vimos num artigo passado sobre o impacto das redes sociais nos adolescentes, a atual geração de jovens – que denominámos de “nativos digitais” – está mais envolvida nas redes sociais do que qualquer geração anterior.

Também vimos que, não obstante as redes sociais poderem ter um efeito adverso na saúde mental e comportamentos dos adolescentes (como, por exemplo, problemas a nível da autoestima e/ou envolvimento em comportamentos de risco), também lhes podem trazer benefícios, proporcionando-lhes uma oportunidade de contacto com diversos pares em simultâneo e quebrando possíveis barreiras geográficas e culturais.

Como tal, podemos concluir que a utilização das redes sociais na adolescência não é necessariamente negativa ou positiva: tudo depende do conteúdo que é consumido, dos websites que são visitados, das páginas que são seguidas, do tempo de utilização e das interações que se estabelecem.

Com esta ideia em mente, a Associação Americana de Psicologia (APA) delineou um conjunto de recomendações para o uso seguro das redes sociais para jovens a partir dos 10 anos de idade, que poderão ser úteis para os cuidadores mais preocupados, nomeadamente:

  1. Ver as redes sociais como uma fonte de apoio social e de fomentação de relações de amizade, incentivando uma socialização saudável (isto é, que não sejam um substituto de relações presenciais), numa idade em que as relações com os pares são tão importantes.
  2. As permissões e funcionalidades das redes sociais deverão ser ajustadas ao nível de desenvolvimento dos jovens (por exemplo, aos jovens deve ser indicado, de forma explícita e repetida, da forma como os seus comportamentos nas redes sociais podem proporcionar informação a terceiros, que a poderão utilizar, armazenar e partilhar com outros, por motivos comerciais).
  3. Nos primeiros anos da adolescência (isto é, entre os 10 e os 14 anos), a monitorização parental da utilização das redes sociais é importante. Os pais poderão discutir e ensinar aos jovens que conteúdo é adequado. Com o tempo, os cuidadores poderão atribuir autonomia na utilização das redes sociais de uma forma faseada, enquanto a literacia digital dos jovens aumenta.
  4. A exposição dos adolescentes a conteúdo suscetível de provocar danos psicológicos (como, por exemplo, comportamentos ilegais, de automutilação, agressões a terceiros, entre outros) deverá ser reduzida, reportada e removida.
  5. A exposição a discursos de ódio online deverá ser evitada e os jovens deverão ser treinados a reconhecer e criticar atos discriminatórios online.
  6. Os adolescentes deverão ser frequentemente monitorizados para o uso problemático de redes sociais que possam pôr em causa o seu dia-a-dia e rotinas e que possam representar fatores de risco ao desenvolvimento de problemas psicológicos futuros. Por exemplo, tendência para continuar a usar as redes sociais, mesmo depois de advertidos que têm de parar; desejo descontrolado em usar as redes sociais; presença de mentiras para aceder às redes sociais; pôr em causa relações significativas ou oportunidades educacionais por causa do uso das redes sociais; procurar unicamente os contactos online, evitando as experiências presenciais.
  7. O uso das redes sociais deverá ser limitado para não interferir com o ciclo de sono e atividades físicas dos adolescentes. Muita atenção aos jogos online que podem envolver jovens de vários pontos do mundo e, portanto, com fusos horários distintos.
  8. O uso das redes sociais para comparação social, particularmente a nível da beleza física, deverá ser limitado.
  9. Os jovens deverão ser instruídos a questionar a veracidade do conteúdo que leem nas redes sociais, a evitar a generalização acerca dos comportamentos e atitudes dos outros nestas, a desenvolver relações online saudáveis e de suporte e a resolver adequadamente conflitos que possam surgir nas plataformas online, comunicando de forma segura.

Estas recomendações visam evitar que o uso de redes sociais seja uma experiência negativa ou nociva para a saúde mental dos adolescentes, contribuindo para que estes possam beneficiar ao máximo das mais-valias que a tecnologia pode trazer a nível social e garantindo um saudável desenvolvimento desta geração de utilizadores, sem que isso justifique um desconectar das relações presenciais e conflitos constantes com os pais.

Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.