Sales Gomes, coordenador da Raia Histórica – Associação de Desenvolvimento do Nordeste da Beira – é o primeiro a apontar para a fraca apresentação dos restaurantes da vila. Não pela falta de qualidade, mas pela apresentação e empratamento final, que não conquistam visitantes. “Temos bons produtos, uma cozinha razoável e péssima apresentação”, reconhece o responsável.

Assim, a Raia Histórica solicitou o apoio de Fausto Airoldi, o primeiro Chefe Cozinheiro do Ano (1990) e responsável pelo Spot S. Luiz, em Lisboa. Conhecido defensor dos produtos de qualidade portugueses, Fausto Airoldi foi a Trancoso para recolher receituário e dar formação nos restaurantes locais. “Não havia muita coisa escrita. Falámos com as pessoas, havia quem se lembrasse de como a avó fazia” determinado prato, diz o chefe de cozinha.

Até agora já decorreu uma ação de formação, envolvendo 10 pessoas, no âmbito do projeto de cooperação 7 Maravilhas da Gastronomia (financiado pelo PRODER Sub-Programa 3, abordagem LEADER). Mas a continuidade da iniciativa é importante para incentivar os participantes, admite Fausto Airoldi.  

O chefe “reinventou” peticos e pratos com os produtos substanciais próprios da região, daí resultando, por exemplo, os pezinhos de porco guisados com ovos de codorniz ou o esturricado à Trancoso; o bacalhau assado sobre papas de laberças; a marrã à Trancoso sobre esmagada de batata torrada e espigos de grelo ou o lombinho de porco corado com alho e serpão sobre papas de míscaros; e ainda a tarte de castanhas e o estaladiço de carolos, nas sobremesas.

A vila de Bandarra, o sapateiro profeta, irá a partir daqui divulgar em feiras e folhetos os restaurantes que se esforcem por inovar. Entretanto, está prevista a abertura de duas lojas de produtos típicos da região de Trancoso no Mercado de Carnaxide e no Cais de Gaia.

Azeites, amêndoas, queijos, bolinhos e doces, vinhos e porco (muitos pratos à base de porco), miscaros, castanhas, nabiças, grelos, espigos, milho e pão de centeio são os principais produtos identificados. Já as sardinhas doces, à base de açúcar, amêndoa e gemas com cobertura de chocolate, com receita originária do Convento das Freiras da Ordem de Santa Clara, prometem conquistar os mais gulosos.