Os filetes desta espécie capturada ao largo de Sesimbra são conservados em azeite e um pouco de sal. As latas vão estar à venda apenas em espaços gourmet seleccionados e ainda não se sabe o preço de venda ao público. O produto que vai agora ser lançado em Sesimbra resulta de alguns meses de testes e experiências e apresenta um paladar “não muito diferente daquele a que as pessoas estão habituadas”, característico do peixe-espada fresco. Este peixe tem uma “textura mais delicada, mais mole do que a cavala ou o atum, o que pode criar estranheza ao início”, adianta José Nero. “Nunca ninguém fabricou isto, achei que era bom dar a conhecer. Fica bem em saladas ou com um bocadinho de limão”, sugere. Ou regado com azeite, salpicado com alho e servido sobre tostas, como entrada, à semelhança do que foi apresentado na Sala Ogival do Terreiro do Paço, juntamente com a muxama de Vila Real de Santo António, o carapau alimado e a cavala das conservas Luças.

José Nero tem desenvolvido vários produtos inovadores, retomando um negócio de família que tinha chegado a encerrar em 1996. As conservas Nero acompanham assim o reavivar da indústria conserveira, uma tendência que acontece em Portugal em períodos de crise. Fonte de riqueza, geradora de emprego e indústria exportadora, a conserva portuguesa tem conhecido altos e baixos ao longo de décadas. No final da Monarquia e primeiros anos da República, surgiram muitas fábricas junto a portos do Algarve, Setúbal, Lisboa e Matosinhos. Depois da I Grande Guerra, “a indústria foi de certa forma castigada pelo Governo de então, com impostos extraordinários e com uma grande quebra nas pescas”, afirmou o representante das conservas Luças. O Estado Novo “reabilitou a indústria conserveira, criando o Instituto Português de Conservas de Peixe. Data dessa época a imagem da sardinha portuguesa como a melhor do mundo. “As conservas não saíam de Portugal sem serem fiscalizadas. As que ficavam eram normalmente as recusadas para exportação, daí não se ter criado uma boa imagem interna. Além disso, havia muito peixe fresco a que se dava preferência”, contrapõe Luças. Passada a II Guerra Mundial, a indústria entrou novamente em declínio, levando ao encerramento de inúmeras fábricas.

Agora, os produtores afirmam que a procura está novamente em alta e que grande parte da produção é exportada tanto para países europeus como para os Estados Unidos e Japão.

 

Ana César Costa