Na Europa, estima-se que 89 milhões de toneladas de alimentos são anualmente deitados fora. A comida é desperdiçada em todos as etapas da cadeia alimentar – do prado ao prato, por produtores, transformadores, retalhistas e consumidores.

A redução do desperdício alimentar está no topo da agenda das instituições da União Europeia. O Parlamento Europeu solicitou uma ação coletiva imediata para reduzir para metade esse desperdício até 2015; enquanto a Comissão Europeia aponta esse objetivo para 2020. Esta ambição requer esforços concertados de toda a cadeia alimentar.

Ao mesmo tempo, a redução do desperdício requer alterações no comportamento do consumidor final. Em todas as nações europeias, uma grande parte do desperdício (37 milhões de toneladas) tem origem nos lares. A mais evidente é no Reino Unido, onde se estima que 60% do desperdício alimentar em cada casa pode ser evitado, traduzindo-se numa poupança anual média de €565,00 por família.

Porque é a comida desperdiçada?

Há muitas explicações para o desperdício alimentar, que diferem de acordo com as etapas da cadeia. Falta informação normalizada sobre esta realidade, principalmente na etapa da manufatura e distribuição. Também há que investigar mais sobre o desperdício na agricultura. A maior parte do desperdício a nível da produção é aparentemente inevitável, resultando de normas técnicas que levam à sobreprodução, artigos estragados ou deformados. A grande distribuição e os retalhistas enfrentam desafios logísticos, incluindo a gestão de stocks, antecipação da procura, armazenamento correto, normas de qualidade e coordenação entre setores.

Em relação às cozinhas, incluindo não só as domésticas como as dos catering e restauração, a principal explicação para se deitar comida fora é porque esta sobrou dos pratos, foi o resto do cozinhado ou não foi utilizada dentro do prazo de validade. Aqui, o desperdício relaciona-se com a atitude e consciência individual, bem como com a capacidade de planear, armazenar e dosear os alimentos.

As causas pelo desperdício dentro de cada lar podem variar segundo fatores regionais, incluindo clima, estatuto socioeconómico e cultura - por exemplo, o generoso hábito de preparar mais comida do que aquela que pode ser comida.

As datas de validade nos alimentos são consideradas das informações mais importantes pelos consumidores europeus. Mas pesquisas no Reino Unido e na Irlanda mostram que há alguma confusão no termo “consumir até… (best before…)”, sendo um terço dos alimentos deitados fora antes dessa data.

Armazenar alimentos é outro aspeto a melhorar. A maior parte das frutas e legumes conservam-se mais tempo se guardadas no frigorífico. Contudo, só 23% dos consumidores de fruta e 53% dos consumidores de vegetais dizem que refrigeram estes alimentos. Muitos deixam alimentos à solta, desprotegidos, o que pode reduzir a frescura dos mesmos.

Levar a sério o desperdício alimentar

Uma hierarquia estabelecida na diretiva comunitária 2008/98/EC dá prioridade à redução do desperdício na fonte, seguida pela reutilização, reciclagem e valorização, com o caixote do lixo em último lugar. Este conceito tem sido aplicado na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que sugere que os alimentos podem ser redistribuídos para pessoas, animais e depois indústria.

Em toda a Europa, há mais de 100 iniciativas para reduzir a acumulação de desperdício alimentar. As estratégias incluem a consciencialização através de campanhas, informação, formação, medida dos desperdícios e melhoramento da logística. No entanto, esta atividade é recente e a sua avaliação limitada.

Medir o desperdício alimentar

O ato de separar os alimentos de outros desperdícios domésticos pode despertar consciências. Alguns restos podem ser separados para compostagem ou biodegradáveis, mas o seu benefício sobre o ambiente está por quantificar. Medir e reportar o desperdício exigem compromisso. O recurso a metodologias normalizadas a nível nacional pode permitir a análise e prevenção dos objetivos.

Campanhas

O WRAP - Waste & Resources Action Programme (Programa de Ação Desperdício e Recursos) foi lançado no Reino Unido para que as pessoas “Amem a comida, odeiem o desperdício” e registou uma redução de 13% em 3 anos (2007-2010). O WRAP descobriu que as pessoas que planeiam, criam listas de compras e monitorizam os alimentos que têm em casa desperdiçam menos que os consumidores espontâneos. A organização encoraja as pessoas a reutilizar as sobras e a usar primeiro os alimentos que estão perto do fim da data de validade.

Uma forma de formar os consumidores para reduzir o desperdício é através de aulas de cozinha. A câmara de Bruxelas, por exemplo, formou 1000 pessoas em 2009. O Parlameto Europeu recomenda que este tipo de cursos práticos seja incorporado nos currículos escolares.

Há oportunidades semelhantes na indústria hoteleira. A restauração e o catering podem ajudar a minimizar o desperdício ao antecipar a procura, informar bem os clientes e lançar inquéritos de consumo.

Outro exemplo é dado pelos restaurantes nos EUA, onde é comum levar para casa o que sobrou da refeição – um costume mal visto em alguns países europeus. A sociedade deve esforçar-se por banir tais embaraços. As sobras devem ser refrigeradas dentro de 2 horas e consumidas até 24 horas depois da compra.

Comunicação da frescura

Há vários tipos de etiquetas nas embalagens: data de fabrico, data de validade, data recomendada para o consumo, mas nem todos têm sido usado consistentemente.

O Parlamento Europeu sugere que a etiquetagem da data inclua o “vender até” (que ajuda os retalhistas a gerir os alimentos que estão perto do fim de vida) e “consumir até”, mas é preciso determinar primeiro se os consumidores percebem a terminologia utilizada.

A legislação atual reserva a data do “consumir até” para alimentos altamente perecíveis. Após esse dia, os alimentos não são seguros. A indicação “Melhor até” indica um mínimo de durabilidade, após o qual o alimento não deve ser prejudicial mas pode perder qualidades (sabor, textura, etc.). Sempre que as condições de armazenagem são importantes para a validade de um alimento, devem ser igualmente indicadas na etiqueta.

Os consumidores devem fazer a sua própria avaliação – recorrendo à visão, olfato e paladar. A Autoridade para a Segurança Alimentar da Irlanda reportou que há uma proporção considerável de consumidores (46%) dizem não ter qualquer problema ao comer produtos cuja data “usar até” estava expirada, apesar de potencialmente porem a vida em risco.

Os produtos que excedam esta data podem ser contaminados com bactérias nocivas e no entanto não mostrar sinais de detioração. Os consumidores devem assegurar que a embalagem está intacta e, especialmente no caso de produtos secos como açúcar, farinha e café, não está exposta à humidade e a insetos.

A inovação aplicada às embalagens também pode ajudar a reduzir o desperdício e, sobretudo, o impacto ambiental, ao melhorar os materiais e design, como pacotes que se podem fechar novamente ou etiquetas inteligentes que indicam o grau de frescura ao mudar de cor, por exemplo.

Redistribuir a boa comida

O excesso de alimentos deve ser encaminhado para uma hierarquia de gestão e redistribuído. As sobras podem incluir alimentos que estão em perfeitas condições mas são rejeitados pela aparência. A lei europeia que diz respeito às frutas e legumes normalizados (EC No 1221/2008) foi por isso suavizada, permitindo a venda de produtos menos “estéticos”. Ainda assim, a venda e utilização exigem a aceitação do consumidor.

As variações de qualidade podem refletir-se no preço. Para evitar desperdícios, os retalhistas recorrem a promoções em produtos ligeiramente danificados ou perto da data de validade. Os descontos são recomendados quando há grandes quantidades de produto, mas há o risco de incentivar a compra em excesso por parte do consumidor.

Os bancos alimentares desempenham um papel importante. Diversos países europeus gerem bancos de sucesso, em que o excesso alimentar das lojas é distribuído por pessoas que precisam ou por mercados de desconto locais.

Poupar em todo o lado

Como assegura a Organização da Alimentação e Agricultura, “há necessidade de descobrir um fim benéfico para os alimentos saudáveis que são atualmente deitados fora”. Prevê-se que o desperdício alimentar seja maior com o aumento da população, a par com a procura de alimento e o crescimento da riqueza. A indústria alimentar, os retalhistas e os consumidores devem todos estar conscientes sobre este assunto. Algumas medidas simples de eficiência não serão apenas vantajosas para as nossas compras, mas terão um impacto global.

Fonte: EUFIC