O crudivorismo é uma variante do vegetarianismo, que rejeita o consumo de carne e peixe, mas vai ainda mais longe ao exigir apenas alimentos de origem vegetal "vivos". Ou seja, põe de lado frutas e legumes congelados ou farinhas processadas, preferindo os alimentos colhidos no momento, desidratados ou germinados. No fundo, uma alimentação que "vai buscar a essência vital dos alimentos" porque não os cozinha. Assim, não degrada enzimas e não perde proteínas. Ao mesmo tempo, apresenta todas as cores da natureza em pratos apetitosos. Como "cor é saúde", basta usar a imaginação.

Márcia Almeida, autora do blog Leite da Terra e responsável por vários workshops sobre o tema, explica ao Sabores que geralmente, as pessoas adoptam este regime alimentar por duas razões principais: ética ou saúde. O crudivorismo apresenta ainda a vantagem de ser uma alternativa económica para comer com mais qualidade. As frutas e vegetais devem ser biológicos e sim, podem ser mais caros. Mas pense só no que poupa no talho, na peixaria e até na electricidade e no gás para cozinhar!

A crise económica foi, até, uma das razões para dar início a estes workshops um pouco por todo o país. "Você consegue comer assustadoramente barato no crudivorismo", afirma Márcia. E ela sabe do que fala. Formada em Economia e com uma série de cursos de naturopatia, homeopatia e até psicologia, consegue ter uma perspectiva completa sobre o tema. "Uso uma curgete para fazer comida para duas pessoas, uso uma batata para fazer sopa para quatro pessoas, uso uma manga para fazer comida para quatro pessoas. Por 4 euros, faço comida para quatro pessoas e garanto que comem com qualidade!"

Sem fundamentalismos, quer apenas ensinar os portugueses a comer melhor. Afinal, a própria Márcia mora num 9º andar e assume que não pode ter uma horta sempre à disposição. Mas há medidas ao alcance de todos. Retirar o excesso de carne do prato, moderar a quantidade de proteínas que se consome actualmente e fazer opções mais saudáveis: apostar na beringela contra o colesterol, na vagem de feijão verde para a diabetes, nas folhas verdes como principal fonte de lactobacilos. "Num dia, você nota o nível de glicemia a baixar, de refeição para refeição!" garante a especialista, que quer "conseguir conjugar uma coisa gostosa, bonita e que faz bem à saúde". 

Exemplo disso é o Sumo da Luz do Sol, uma mistura acabada de fazer com fruta, folhas verdes e um punhado de sementes germinadas. Por exemplo, "grão-de-bico colocado na água e deixado a escorrer 8 horas, depois deixado 12 horas no ar. Ele brota, isso é a semente germinada, é a força total da semente com propriedades elevadas milhares de vezes em termos de proteínas, minerais, aminoácidos, vitaminas. Resultado: com uma mão de grão consegue ter proteína suficiente equivalente a um bife". A presença da maçã (ou pêra, por exemplo) remete para um sabor já conhecido, o espinafre (ou outra couve, desde que seja saborosa) dá um bonito tom de verde e a semente pode ser de outra leguminosa (lentilha, ervilha, feijão, soja). Pode também juntar pepino, abóbora, cenoura. Claro que pode haver misturas que correm menos bem. Com beterraba o sumo fica castanho e feio; com nabo fica intragável e com agrião ligeiramente picante. Mas as opções são infinitas e o melhor conselho que podemos deixar é mesmo ir fazendo experiências e provar a maior variedade possível, para conseguir ter o máximo de nutrientes. "Se puder tomar este sumo de manhã em jejum você está tomando uma dose de força vital. Está pronto para começar o dia! E é caro? Não, é de graça! Porque eu uso uma mão de grão, uma mão de espinafre, uma mão de pepino (serve para a retenção de líquidos), uma ou duas maçãs" insiste Márcia. "A clorofila é muito semelhante à hemoglobina, variando só no magnésio e no ferro. Pessoas com hipertensão regularizam a tensão. Pessoas com retenção de líquidos vêm o inchaço diminuir em 10 dias".  

"Não se entra no crudivorismo assim de repente. Tem de dar tempo ao corpo para se habituar, para compreender", explica a orientadora dos workshops. A única regra é apresentar um prato bonito, mantendo uma relação emocional com os alimentos. Dito por outras palavras: "procurar o aspecto mas não a essência da comida".
Por isso podemos chamar sushi a um rolo sem peixe, composto por cevada em substituição do arroz, beterraba em vez de salmão ou atum, e alga à volta. Já a lasanha dispensa a massa, a carne e o bechamel, levando curgete, aveia e tomate. "Emocionalmente é apresentado como lasanha", explica Márcia. E os mais gulosos que não desanimem, porque é possível fazer doces de aspecto e sabor igualmente deliciosos. A massa do cheesecake é feita com nozes e amêndoas esmagadas; o recheio com queijo de sésamo e a cobertura com uma calda de frutas vermelhas. Para uma mousse "de chocolate", basta juntar mangas e bananas para obter uma consistência de mousse e alfarroba para conseguir uma cor acastanhada. 

Veja aqui algumas receitas de Márcia Almeida: 
Tarte de fruta

Sushi

Ana César Costa