Com base no nome, que é dinamarquês, podíamos supor que os sabores do Sult – que significa fome – seriam de inspiração nórdica. Porém, não é bem assim. Até porque o chef, o Nelson Soares, é apaixonado pela gastronomia italiana.
Para descomplicar, tal como a cozinha deste chef, podemos dizer que o conceito do restaurante se inspira no minimalismo dos países do norte da Europa e, neste caso específico, no do Mangia, de Conhepanga.
Inspirando-se nos sabores rurais italianos, o Mangia dá valor à tradição, simplicidade e acolhimento. Para o espaço, são estes os ingredientes chave para garantir um ambiente "descontraído".
Tal como o Mangia, o Sult procura oferecer a quem se senta à sua mesa pratos com sabor a casa, amizade e Itália. Aqui, Nelson tenta que cada prato tenha no máximo cinco ingredientes base, incluindo produtos locais.
"O que aqui procuro é que o cliente embarque numa viagem gastronómica de forma descomplexada, com aposta principalmente na qualidade e no fator surpresa. O ambiente é descontraído e informal, como eu, e a comida, ou melhor a fome, está no centro de tudo", explica o chef de 52 anos.
Autodidata, Nelson começou a cozinhar aos 12 anos, estreando-se profissionalmente em 2008, quando começou a prestar serviço em eventos privados.
Entretanto, a vida fê-lo explorar outros caminhos, tendo chegado a criar carneiros e a trabalhar na área da biotecnologia. Em 2019, ano em que abriu o Sult no Rio de Janeiro, era somente proprietário. Por causa da pandemia de COVID-19, acabou por se tornar também o chef do espaço.
Ao comando do Sult, começou a criar a cozinha à sua imagem. Acrescentou à base gastronómica italiana ingredientes brasileiros, oriundos da Amazónia, Nordeste e de Minas Gerais.
"O restaurante começou a aparecer"
Em conversa com o SAPO Lifestyle, Nelson conta que o Sult Botafogo "começou a aparecer" e a destacar-se na cena gastronómica carioca.
Desde a abertura, o projeto original já conquistou prémios como o Bib Gourmand, do Guia Michelin e entrou em listas como os 50 Best Discovery e na Louis Vuitton City Guide.
Em Cascais, o criativo chef segue a fórmula e mantém alguns alguns dos elementos de assinatura do primeiro, como o burburinho de uma esplanada (25 lugares), ou a cozinha parcialmente aberta, sendo todos os pratos finalizados já em sala, numa mesa central.
Ainda honrando o espírito do projeto original, as toalhas de mesa brancas e a louça da Vista Alegre são as únicas concessões à formalidade aqui. Há também uma forte relação com os produtos locais frescos, com destaque para o peixe (e outros produtos de Mar), tudo nacional.
Se as paredes falassem, revelariam um grande amor de Nelson Soares: o vinho. A garrafeira, próxima à entrada do espaço, não engana. Perdemo-nos a olhar, uma vez que a carta conta com cerca de 100 referências.
O melhor é que existe uma forte aposta nos pequenos produtores portugueses locais, algo que nos permite descobrir ou experimentar finalmente vinhos que nos são próximos, mas desconhecidos, como o rosé Ramisco, da família Ramilo que, desde 1937, se dedica ao vinho ali perto do centro de Cascais, entre Colares e Mafra.
Para além da aposta em pequenos produtores, o Sult destaca igualmente vinhos naturais e biodinâmicos, sem esquecer os clássicos e champanhes.
O Sult de Cascais está aberto todos os dias, mas de segunda a quinta-feira só funciona ao jantar.
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